11 de maio de 2007
Todos os dias pela manhã, Dona Maria lava a calçada. Não é uma varrida com vassoura, não. São litros e mais litros de água gastos no cimento quente à porta de sua casa. Um dia, sua vizinha comentou sobre um tal relatório que dizia que o aquecimento global poderá extinguir espécies e até mesmo deixar bilhões de pessoas sem água no futuro. Dona Maria então disse: “Mas não há nada que eu possa fazer para mudar isso”. E continuou a jogar água na calçada.
Cenas assim são comuns de serem vistas todos os dias. A Dona Maria da história pode ter outro nome, mas todos nós a conhecemos. No meu antigo trajeto a pé para o trabalho, quase todos os dias eu me deparava com cenas que me deixavam triste. Algumas vezes, eu cheguei a comentar com as pessoas que elas não deveriam desperdiçar a água, que é um bem precioso. Mas quase sempre eu não era ouvida.
GRAVE
O fato é que a situação é séria, talvez mais séria do que muitos possam imaginar. De acordo com o Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês), as temperaturas deverão aumentar em mais de 6 graus até o fim do século XXI, o que não é difícil de imaginar que é verdade. O calor intenso, mesmo em cidades que antes eram conhecidas pelo frio, não deixa nenhum lugar escapar. Quase não temos inverno e a tendência é que a situação só se agrave.
O IPCC já revelou que o causador das mudanças ocorridas na natureza é o homem. Na semana passada, o Grupo divulgou um plano mundial para evitar mudanças ainda mais desastrosas, com corte de emissão de gases e medidas que devem ser adotadas pelos países. Mesmo se todos resolverem colaborar – o que é uma utopia – não seremos poupados das mudanças. Até 2050, dois bilhões de pessoas podem ficar sem água e até 30% das espécies do mundo pode estar ameaçada de extinção.
MAUS HÁBITOS
A Dona Maria que lava a calçada e todos aqueles que seguem o seu exemplo podem achar que não estão aptos a ajudar a mudar essa situação caótica, mas a verdade é que eles podem. Todos nós podemos. Calçada não precisa de água, precisa de vassoura. E se lavar um determinado local é realmente necessário, por que não reaproveitar aquela água da máquina de lavar roupas? É prático, resolve o problema, economiza na conta do final do mês e ainda poupamos um dos mais preciosos bens da humanidade: a água.
Tudo aquilo o que fazemos pode afetar a humanidade. Mesmo em menor escala, fazemos parte do mundo e devemos preservar aquilo o que deixaremos para as próximas gerações e para nós mesmos. Isso porque os efeitos do aquecimento global já começaram a aparecer como o resultado de ações que nós mesmos tomamos.
A água é um recurso natural, mas não é infinito. Parece estranho falarmos em “falta de água” em um planeta que é composto por 70% desse líquido. Porém, 97,5% dessa água é salgada, proveniente dos oceanos, enquanto o pouco que resta também não é totalmente própria para consumo. Ou seja, da água doce disponível, se tirarmos o percentual que está sobre as calotas polares ou geleiras, somente cerca de 0,3% da água vem de lagos e rios e pode ser aproveitada por nós. Isso mesmo, esse pouco.
MUDANÇAS
As notícias de tantas mudanças climáticas e de desequilíbrios ecológicos podem servir para que paremos para pensar em nosso cotidiano. Há tanto para ser feito com pequenas atitudes e não fazemos, como podemos então cobrar de autoridades que façam a sua parte? A mudança tem que começar dentro de nossas casas, com uma responsabilidade que assumimos com o meio ambiente.
Em vez de concreto no chão do quintal, coloquem grama. Plantem árvores onde puderem, cuidem de vasos em suas casas e, principalmente, economizem água. O lixo pode ser separado para a reciclagem. Todos podemos separar plástico, papel e metal do lixo orgânico. Não dói, não custa nada e ainda pode gerar renda para outras famílias, além de ser um ganho para a natureza. E quando encontrarem com um vizinho lavando o chão, peçam um minuto de conversa e expliquem a importância da economia da água. É só com a conscientização que podemos mudar, de verdade, esse mundo.