Archive for abril, 2009

Alcoolismo – para refletir

terça-feira, abril 7th, 2009

Recentemente fiz uma matéria especial sobre o alcoolismo que pode ser lida aqui. Eu gosto muito de escrever sobre temas que possam auxiliar as pessoas a refletirem sobre a condição humana, que sejam capazes de fazer os leitores pensarem sobre o quanto o preconceito não leva a nada, que sejam fonte de informação para a solidariedade ou a ajuda ao próximo ou animais e, também, adoro escrever temas relacionados à saúde.

Nesse caso, apresento o alcoolismo e em uma das matérias da página há a entrevista com dois dependentes que fazem tratamento e estão abstêmios. Exemplos de que é possível! Um pouco antes de a entrevista acabar, um deles me entregou um papel que escreveu com uma poesia para mim. E esses pequenos gestos me emocionam na carreira. De verdade.

Você é uma jornalista
Que entrevista bem pra valer
E nós amamos falar com você
Que Deus a abençoe
Por cada sol que neste mundo nascer

Por Waldeci

Alegrias a todos,
Fernanda.

Na cozinha

domingo, abril 5th, 2009

Aprendi a cozinhar bem tarde. Aos 23 anos fiz meu primeiro arroz, aos 24 aprendi técnicas, inventei pratos e descobri que é divertido estar na cozinha. Não havia experimentado antes porque, desculpe aê, tenho uma avó linda e fofa que cozinhava para mim (nós morávamos juntas, meus pais moram na casa ao lado, mesmo quintal, família toda junta, manjam?). Até hoje é assim, quando eu digo que vou para Sampa, a vóva pergunta se eu quero algo, e quase sempre eu peço, porque algumas receitas dela só ela sabe fazer daquele jeitinho.

Pois bem, voltando à cozinha… ficamos amigas, mas admito que não gosto de cozinhar todo dia, detesto lavar louça e deixo a maior bagunça depois de terminar as receitas. Má acaba lavando tudo, geralmente é muito mais organizado do que eu e também cozinha melhor, mas juntos somos melhores. E apesar de eu nunca colocar receitas aqui (vez ou outra coloco fotos no flickr, deem uma checada), vou pensar em compartilhar algumas experiências, quem sabe?

Mas a dica de hoje não é sobre comida, é sobre armazenamento. Na nossa cozinha não pode faltar pote de vidro. Nos grandes guardamos arroz (um só não, porque temos sempre pelo menos o parboilizado, arbóreo ou carnaroli para os risotos, integral que é um dos preferidos e outro tipo que geralmente é uma mistura nossa com arroz selvagem e outros grãos), também guardamos nos vidros macarrão, farinha (normal e integral) e açúcar (granulado e mascavo).

O mais legal, porém, é ter potes pequenos de vidro na cozinha. Primeiro porque você pode inventar um molho novo e já tem onde guardar e o melhor do pote de vidro é que ele não pega o cheiro do pote de plástico (e pode ser encontrado baratinho nos supermercados). Para o dia-a-dia é praticidade, higiene e até uma certa beleza pra cozinha, né não?

E aí, quais são suas dicas?

abr09_potesvidroDa esquerda para a direita: pesto com castanha de caju (eu quem faço), farelo de aveia (meu inseparável), sal, linhaça em pó, molho de pimenta caseiro (fiz com dedo-de-moça).

Alegrias,
Fernanda.

Nariz vermelho

quinta-feira, abril 2nd, 2009

Vocês conhecem o trabalho de palhaços que visitam os hospitais para levar conforto aos pacientes e familiares? Recentemente escrevi uma matéria sobre isso e que pode ser lida aqui. Em seguida, escrevi uma coluna que foi publicada no jornal na edição seguinte, em que conto a minha experiência pessoal com os palhaços e compartilho abaixo com vocês.

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Escrever a matéria sobre o trabalho da equipe UAI (Unidade de Alegria Intensiva), inspirada nos Doutores da Alegria e publicada nesta edição, foi um prazer para mim. Após anos eu pude me lembrar de episódios que marcaram a minha vida, afinal, eu sempre gostei de palhaços, mas nunca imaginei que eles estariam tão ligados a mim em fases diferentes. A começar por uma das minhas fotos preferidas de quando era criança – ao lado de um boneco-palhaço. Tudo bem que era o Bozo, não exatamente um “modelo” de palhaço, mas eu me recordo que adorava aquele boneco de cabelo laranja que era maior do que eu no tamanho.

Aos 22 anos, após alguns anos de curso de teatro, por dica de um amigo, fiz um workshop sobre o clown. Fiquei completamente apaixonada pela arte do palhaço. Não só eu, mas toda a turma, que resolveu continuar a estudar. Assim, permanecemos juntos por cerca de um ano. O professor, a quem eu chamava de “mestre clown”, era o ator Márcio Ballas, com uma grande experiência como João Grandão (esse era o nome de seu clown). Ele foi um dos “Palhaços sem Fronteiras” franceses com quem fez expedições para a África e campos de refugiados durante a guerra do Kosovo. Márcio também foi integrante dos Doutores da Alegria.

Durante todo o tempo em que estive com aquela turma, aprendi muito sobre mim mesma e as outras pessoas. O palhaço faz isso pelo ator, é capaz de virar o seu olhar para dentro de si mesmo, conhecer suas fraquezas e trabalhar com elas. Fazíamos jogos de improvisação, aprendemos a rir dos nossos defeitos e transformar as características em munição para o riso alheio. Ser palhaço não é fácil, mas é maravilhoso.

Foi aí que eu descobri a Tiffany, a minha clown. Cada pessoa possui apenas um palhaço em toda a vida. Não é um personagem, é parte de você. E com as aulas passei a ter cada vez mais vontade de participar de grupos de palhaços que visitam hospitais para levar conforto aos pacientes e familiares por meio do lúdico. O palhaço que visita hospitais é generoso: ele doa a sua alegria. Imaginava se seria capaz, mas decidi que era isso o que queria fazer. Os colegas do curso iniciaram um movimento para visitar hospitais e assisti ao primeiro sarau de palhaços. Apresentei-me poucas vezes para a turma e convidados e nunca, nunca mesmo, senti nada igual como a sensação de fazer rir como a Tiffany.

O destino, porém, não me contou que antes de eu fazer a primeira visita a algum hospital eu passaria por uma situação de inversão. Em 2003 fui internada às pressas, passei quatro dias na UTI por conta de um derrame pleural e suas consequências e a situação chegou a gravíssima. Ao contrário de outras pessoas (e talvez dos próprios médicos), eu sabia que não ia morrer. Agarrei-me à fé em Deus e às lições aprendidas com os palhaços. Dias depois, já no quarto, recebi uma visita inesperada e que fez o hospital ficar colorido. Um palhaço foi me ver.

Quando eu vi o meu amigo Fernando Weno vestido de Fred, o seu palhaço simpático, com bexigas em forma de bichos, os meus olhos se encheram de água. Eu senti uma sensação que não posso explicar. Lá estava eu, a aprendiz de palhaço que desejava visitar hospitais, recebendo a visita de um. Eu estava do outro lado e percebi, na pele, a dimensão de tudo aquilo.

Weno fez, ali mesmo no quarto, bichinhos com as bexigas. Encantou médicos e enfermeiras e os pacientes dos quartos vizinhos até pediam seus próprios animais. Meu amigo-palhaço anunciou os votos de melhora da minha turma de clown e percebi que o caminho de levar o sorrriso ao ambiente hospitalar é algo inexplicável. Ele funciona.

Eu admiro muito o trabalho de todos os voluntários que dedicam o seu tempo a levarem um pouco de alegria a pessoas que estão fragilizadas. E quem nos dera todos fôssemos um pouco “palhaços” no dia-a-dia, para aplacar as dores e minimizar as decepções. Se conseguíssemos entender o princípio de rirmos de nós mesmos, a nossa vida – e a de quem está ao nosso redor – seria mais fácil e deliciosa. Hoje eu não tenho medo de me sentir ridícula e de colocar o meu nariz vermelho. Medo eu tenho, isso sim, de não sorrir.

 mar09_tiffany2peqAqui sou eu, após dias no hospital e em casa, ainda em repouso, em abril de 2003. É a única foto que eu tenho com as bexigas que ganhei no hospital e por vergonha as usei para esconder os braços roxos de tantas picadas.

mar09_tiffany1peqEssa é Tiffany, com seu primeiro figurino, que logo foi substituído por um vestido cor-de-rosa.

Alegrias,
Fernanda.

Mais uma vez esse papo

quarta-feira, abril 1st, 2009

A verdade é que acho um absurdo que esse assunto ainda esteja sendo discutido. Leiam o trecho do Sindicato dos Jornalistas e lá embaixo a minha opinião.

Está chegando a hora. Depois de uma espera de sete anos, o Supremo Tribunal Federal (STF) colocou na pauta de julgamento o Recurso Extraordinário 511961, que questiona a constitucionalidade da exigência do diploma em Jornalismo como requisito para o exercício da profissão. No dia 1º de abril (hoje) onze ministros da corte máxima brasileira selam o destino de milhares de profissionais com formação acadêmica e dos que estão na escolas de Jornalismo em busca do diploma. É um tema que extrapola a questão corporativa de uma profissão regulamentada há quase 50 anos. Na prática, ameaça a sociedade brasileira em uma de suas mais expressivas conquistas: o direito à informação independente, plural e ética.

A luta dos jornalistas tem sido intensa desde outubro de 2001, quando a juíza federal substituta Carla Abrantkoski Rister, da 16ª Vara Cível de Justiça Federal (SP), suspendeu a obrigatoriedade da exigência do diploma para o exercício do Jornalismo. No caminho, a categoria conquistou vitórias e colheu dissabores, como o surgimento dos precários, que começaram a povoar redações e assessorias sem o mínimo preparo. Perderam os jornalistas profissionais diplomados e a sociedade brasileira. É hora, portanto, de o STF corrigir a distorção.

Jornalismo é uma profissão séria e precisa de diploma. Você discorda? Então tá, eu quero ser advogada, manjo pra caramba de leis e pronto, para que eu vou me matar fazendo faculdade? Vou começar a advogar agora. Parece justo? Ou então eu acho que administração de empresas se aprende com a vida, então vou lá tentar uma vaga no lugar de quem estudou, mesmo eu não tendo feito o curso. É correto? Não, né. Por que então acham que com o jornalismo é certo fazer isso?

Os jornalistas “das antigas” continuam com o direito de atuar, porque eram de uma época em que o jornalismo não era regulamentado, mas retroceder já é demais. Exigir o diploma de jornalismo para atuar na área não significa tirar a liberdade de expressão do cidadão, que pode continuar opinando, criticando, palpitando. O fato é que ser jornalista é muito mais do que isso, é uma profissão que exige, além de ralação, uma formação.

Eu, como jornalista formada desde 2000, espero que a decisão do STF hoje seja justa e sensata.

Alegrias,
Fernanda.