Fernanda criança

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Tenho lembranças de infância que aquecem meu coração. Do jeito que eu ficava quietinha para parecer estar dormindo e ser carregada no colo pela mamãe ou pelo papai, do pastel com guaraná preparado no sábado à noite, quando nos reuníamos em volta da mesa de centro da sala para ver TV juntos, das longas partidas de WAR que eu, meus pais e meu irmão fazíamos, do presente que eu ganhei de Papai Noel que não era o que eu queria, mas que era o que meus pais podiam dar e se tornou o meu preferido pra sempre: a boneca com cabelos de lã cor-de-rosa que me fez perder a inocência do bom velhinho, mas me mostrou mais uma vez a família linda que eu tinha, das brigas e brincadeiras com meu irmão, da turma da rua, onde fazíamos bailinhos e brincávamos de esconde-esconde, do leite quente que meu pai preparava pra mim e do jeito carinhoso com que ele me acordava todas as manhãs, da paixão por minha mãe pelos animais, que passou para mim com toda a força, das aulas de matemática que meu pai me dava e das de ciências dadas pela minha mãe. Lembro do colégio de freiras, das orações da manhã, do uniforme azul berrante da escola, das pecinhas de teatro que preparamos para as datas comemorativas, da gincana em que participamos com um grupo de nome “boto rosa” (sem comentários), da troca de canetas e de fofocas com meu primeiro amigo que eu me lembro nessa vida e que foi meu padrinho de casamento, das lições de português que eu fazia com gosto porque realmente me fascinavam, da única Barbie que eu ganhei depois de “mocinha”, porque antes eu brincava com a Suzy que tinha sido da mamãe, das roupas de boneca que ela fazia para mim com o maior capricho, do meu forninho de brinquedo em que eu e as amigas da rua preparávamos lanchinhos (e comíamos!), das aulas de natação, de balé, de inglês e das tantas bolsas de estudo que eu tinha para tudo. Lembro do meu gosto pela leitura desde cedo, dos meus dibis da Turma da Mônica, meus primeiros livros e meu caderno de poesia de capa amarela. Lembro todos os dias que sou uma privilegiada por ter conhecido os meus quatro avós e ainda ter a vóva ao meu lado. Do “ô ô ô” que o meu avô de olhos azul como céu fazia e do seu jeito de derrubar lanche pela casa inteira porque não gostava de pratinhos, dos livros emprestados pela avó paterna e que me fizeram pegar ainda mais gosto pela leitura, ainda mais policial (que eu comecei a ler criança, acreditem), do jeito do meu avô paterno falar italianado na mesa à refeição e eu me sentir morrendo de vergonha quando ele queria que eu respondesse em italiano. Das blusas de lã que a vóva fazia e ainda faz, do jeito solidário dela e da maneira fofa com que fala cada vez que lê algo que eu escrevo. Lembro da vó materna, essa aí, nos dias em que preparava sopa de feijão para jantarmos, quando papai ainda não tinha voltado da farmácia e mamãe da escola e depois nos lia histórias. De “João e Maria e “A Bela e a Fera” principalmente, eram minhas favoritas e estavam escritas num livro velho, que a vó já tinha usado para ler para minha mãe. Eu me recordo das viagens curtas em família, das danças com meu pai na sala de casa, dos discos de vinil que me fizeram gostar de Beatles, das noites assistindo ao Carnaval com minha mãe e dos dip lick, aquele pirulito com pozinho colorido, que meu pai trazia. Não esqueço das viagens ao Rio desde muito pequena, das bagunças com a prima, as idas à praia e o meu gosto pela água desde cedo. Lembro, especialmente, que a minha infância foi marcada pela presença da minha família, de muito amor, de pouco dinheiro, de abundância de felicidade e de exemplos de honestidade. Fui uma criança feliz. Sou uma mulher feliz. E, dentro de mim, ainda há uma criança. Vai ver que é por isso que eu não preciso voltar no tempo – ele está em mim e fez de mim o que sou hoje.Fe_crianca3_tw

Reedição do ano passado, já que o blog antigo ficou esquecido e muitos textos não foram lidos. ;-) Desse eu gosto porque me sinto aconchegada com as lembranças.

Feliz Dia das Crianças para todos vocês!
Alegrias,
Fernanda.

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19 Respostas to “Fernanda criança”

  1. Osinete Says:

    Delícia de post.Gostei de relembrar,não a minha infância,mas a dos meus filhos.
    Espero que tenha sido bom para eles assim como foi para você.
    Passou um filminho na minha cabeça.War,Banco Imobiliário,gibis,passeios ao ar livre.Li muito gibi da Monica para o primogênito (Rodrigo) e até hoje ele gosta e coleciona.
    Eu já sabia que essa pessoinha do bem que você se tornou foi resultado de uma família bem estruturada como a sua.
    Acredito que família é a base para um mundo melhor.
    Beijos

    Fernanda França Reply:

    Que recado mais lindo, Osinete! Minha mãe vai amar quando ler (e meu pai quando minha mãe contar pra ele, rs). Família é tudo, tudo mesmo. Beijos.

  2. Lelei Says:

    Eu ainda também penso muito nos meus tempos de criança, vai um post um dia desses também pra colocar tudo que me lembrei. Espero que a geração dos nossos filhos tenham tantas lembranças boas como as nossas, porque essas são mesmo maravilhosas e fazem as pessoas que somos hoje, felizes e fortes. :)

    (amei as fotinhos você já era fofa desde o comecinho! hehehe)

    Fernanda França Reply:

    Essa fase da infância (das fotos) eu gosto, porque a adolescência, minha nossa, vixeeeee nem mostro foto, não, hahaha!!! Beijos, amiga.

  3. Maggie Says:

    Ehehehe Osinete, AMEI seu recadinho!!!!
    Pena que a família está se desintegrando , se decompondo do nosso meio porque é a base de tudo, de um bom começo e de filhos como os meus….lindos de corpo e alma!!!!
    Passou novamente um filminho em minha cabeça, novamente eu lí e novamente eu chorei ….
    Lindo filha!!!!
    Beijossssss
    Mamy

    Fernanda França Reply:

    Eu amo vocês :õ)

  4. Ana Says:

    Ai Fê, faz assim comigo não! :õ)
    Ai…pronto me recompus! ;-)

    Nem preciso dizer que o que escreveu é lindo e que sua família deve ser tão linda quanto você. Dá pra renovar um pouco as esperanças sobre esses antigos valores voltarem. É uma pena que quase tudo tenha se perdido. Hoje mesmo, pela manhã, eu falava sobre isso aqui pros meus. Que eu sou da época em que a diretora da escola entrava em sala e todos se levantavam em sinal de respeito. Agora… bem vc deve saber. Ainda mais sendo filha de professora. Professor era autoridade agora é motivo de chacota. Uma tristeza e eu sinto profundamente por essas mudanças. Que bom saber que vocês existem! :-)

    Beijo, minha linda caipira loirinha!

    Fernanda França Reply:

    Amiga, um dos medos de ter filho, para mim, é conseguir passar esses valores, sabe? Será que eu consigo fazer algo de bom como meus pais fizeram comigo, como os pais do Má fizeram com ele? Beijos!! Fê.

  5. Raafel Says:

    Nossa Fê!! Me emocionei comestas suas lembranças pois são muito próximas das minhas também. Sábado a noite era momento de comer torta, pastel ou pizza e assistir Viva a Noite. Meu pai trabalhava de sábado e chegava no sábado à noite, às vezes com pizza, outras vezes com um pacotão de pastel e refri. Especialmente quando ele recebia o salário da fábrica.

    Eu me lembrei de um brinquedo que eu amava e ainda amo: Playmobil!!! Eu e meus irmão criavamos muitas histórias com os Playmobils. Eles formavam uma família que vivia muitas aventuras engraçadas. O meu boneco Playmobil chamava-se Cica e sua profissão era cientista (ahahahahahah). Nas brincadeiras ele criava máquinas junto com seu irmão Cico, que era boneco do meu irmão. E tinha outros bonecos pois a minha mãe trabalhou na Estrela e eu tinha muitos bonecos de borracha, cada um tinha nome, personalidade, uma voz.

    Ah!! E temos um boneco em comum que eu sei!!! O Cachorro Orelhinha!!!!
    Nossa!!! até hoje eu guardo ele, quando fiquei mais velho e passei o boneco pro meu irmão ele o chamava de Nenê Orelhinha. Nós sempre faziamos a voz do Orelhinha um pouco mais rouca. Acho que vem daí a nossa habilidade de fazer vozes diferentes e de gostar de dublagem.

    Ah!! e esta sua foto de caipirinha tá na entrada da casa da sua mãe!!!

    Puxa… bons tempos mesmo… Obrigado por compartilhar essas memórias. Feliz dia das Crianças!! (e eu ainda quero ganhar Playmobil)

  6. Rafael Says:

    Nossa!! fiquei tão emocionado com isso que escrevi até meu nome errado.

    Fernanda França Reply:

    Rafa, adoreeeeeeeeeeeeei conhecer suas memórias também. Tão bom ter memórias assim, né? E por pouco não brincamos juntos de Playmobil hahahaha nos conhecemos quando eu tinha… 14 anos!!! Afe, Rafa, é muito tempo, rsrsrsrs. Beijos.

  7. Carol De Nardi Says:

    Este texto realmente foi especial. Incrível como você conseguiu colocar tudo aí. Eu me lembrei muito da minha infância, que, aliás, foi muito parecida com sua.
    Tenho muito a agradecer a Papai do Céu por ter me dado uma família linda, uma avó maravilhosa, uma escola bacana, brinquedos inesquecíveis e amigos para a vida toda !!
    Ah! Lembrei de nós duas na aula de natação lá na Polícia Militar. As nossas avós nos levavam para aquela “tortura”. Acho que eu tinha uns 10 anos… hahahahah
    Fica com Deus, minha flor !

    Fernanda França Reply:

    Hahahaha é verdade!!!! Irmã, eu tenho taaaaantas memórias em que você está presente que vai dar um post só sobre isso. Topa? Eu escrevo pro meu blog e você escreve pro seu!!! Em comemoração a… quantos anos de amizade? Quando eu te conheci, eu deveria ter uns 7 anos, por aí? E você uns 5? (Quando você estudou com Flá?). Então são só 23 anos de amizade, oras :-) Me fala que a gente marca o dia de postar juntas. Smacks.

  8. Lucia Says:

    Que lindo post, Fer! E que fofinha voce estava nessas fotos! Minha infancia tb foi maravilhosa e as vezes me pego com um sorriso no rosto viajando no tempo pra aquela epoca!!! Simplesmente amei seu relato! bjos

    Fernanda França Reply:

    Obrigada, querida, obrigada!!!! Um superbeijo pra você.

  9. Nanda Says:

    Lindo esse texto, amiga. Mto bom vc ter essas memórias tão vivas dentro de vc. Isso faz com que vc seja essa criançona que passa alegria a todos que estão perto. Tb tive uma infância mto feliz, meus pais não tinham a mesma condição econômica que têm hj, mas estávamos sempre juntos, a família toda reunida, avós por perto…mto bom mesmo. Espero tb passar esses valores, essa importância da família pra Gi…isso que realmente importa! Se ela se lembrar da sua infância como vc já sei que fiz um bom papel!
    Bjão.

    Fernanda França Reply:

    Querida, você ainda tem dúvida? Sua filha é muito feliz, dá para ver na carinha dela. A Gi vai ter memórias lindas, tenho certeza. Quero ser uma mãe tão boa quanto você é para a Gi. Deus me permita isso. Beijos.

  10. » Blog Archive » Sabor de infância Says:

    [...] mãe ficou saudosa com esse post e olhem o que me deu na última visita a [...]

  11. Crianças | Says:

    [...] quiser ler um texto sobre minhas memórias de infância (tá, eu leio e choro, Fernanda bobona), aqui está. Peço desculpas por nada tão elaborado neste ano, mas minha criatividade está sendo canalizada [...]

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