Novo acordo ortográfico

Para facilitar o intercâmbio cultural entre os países de língua portuguesa, o novo acordo ortográfico, em vigor desde o primeiro dia desse ano, estabelece mudanças na ortografia, ou seja, na maneira de escrever as palavras do nosso idioma. A gramática não é alterada e as pronúncias de cada países continuam valendo. O que muda é a escrita. No Brasil, cerca de 0,45% do vocabulário sofrerá alteração, enquanto em Portugal 1,6% das palavras serão alteradas.

A CLPL (Comunidade de Países de Língua Portuguesa) é formada por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. A reforma proposta em 1990 foi assinada pelo Brasil em 1995, por Cabo Verde e São Tomé e Príncipe em 2006 e por Portugal no ano passado. Antes da mudança atual, dois acordos oficiais tinham sido feitos em 1943 e 1971.

Na prática, mudará a maneira de escrever algumas palavras. O trema não existe mais e a maior alteração é com relação à utilização do hífen, com várias regras. Há modificações na acentuação, como a eliminação do acento agudo em ditongos “ei” e “oi”. Assim, heroico e ideia não são mais palavras com acento. O circunflexo em duplo “o” será eliminado, como em voo ou enjoo.

O alfabeto terá 26 letras com a inclusão de “k”, “w” e “y”, que já eram permitidas antes em nomes próprios e estrangeirismos e o acento para diferenciar as palavras não será mais usado. Na frase “O carro pára para estacionar”, por exemplo, as palavras eram acentuadas para determinar verbo e preposição, o que não irá mais acontecer. Ainda será obrigatório o uso em pôr como verbo no presente e pôde como verbo poder no passado.

As maiores mudanças serão aplicadas em Portugal, que cortará as letras mudas que não são faladas, como acto e óptimo. A partir de agora, o país-irmão escreverá como nós: ato e ótimo. A letra “h” utilizada no início de algumas palavras será abolida e a dupla grafia será mantida em alguns casos, como em bônus/bônus, tênis/tênis, sendo que no Brasil permanece o acento já utilizado, o circunflexo.

As explicações acima são parte de uma matéria que escrevi recentemente para o jornal (depois prometo escanear as matérias mais recentes e colocar para vocês aqui no site). E como em matéria eu não posso opinar, mas aqui eu posso, eu digo que não concordo com esse acordo ortográfico.

Ora, vamos pensar bem: muito dinheiro sendo gasto com uma reforma que, na prática, não muda nada, enquanto esses milhões poderiam ser aplicados em uma reforma na educação do nosso país que, com toda a sinceridade do mundo, não anda nada boa. As escolas públicas merecem muita atenção, mas parece que os poderosos estão mesmo interessados em tirar trema, em mexer nos acentos e no hífen. E quem é que sabia escrever corretamente com o hífen antes? Agora saberão muito menos. Nós precisávamos de investimentos na EDUCAÇÃO, não na mudança da ortografia, não agora.

Fico triste em saber que querem unificar o que não é necessário. A leitora Telminha, por exemplo, que é de Portugal e sempre deixa seu carinho por aqui, escreve de uma maneira linda que eu identifico de cara. Como eu vou perder um “Desejo um óptimo dia” dela? Não quero que seja “ótimo” como nós, quero o “p” de volta, o “p” de Portugal que não me impedia em nada de entendê-la, mas que diferenciava os países de forma singela.

Mas se é para aprender, lá vamos nós, não é? Coloco abaixo a tabela que preparei para o jornal, com as principais mudanças do acordo ortográfico. Vamos ler, aprender e torcer para que nossos governantes tenham idéias (ops, ideias, sem acento) melhores do que essa nos próximos anos.

E vocês, o que acharam das mudanças?

Alegrias,
Fernanda.
Domingo, 11 de janeiro de 2009.

 

Mudanças do acordo ortográfico
Conheça as principais mudanças do acordo que está em vigor desde 1º de janeiro e que visa unificar a escrita nos países de língua portuguesa.

ACENTO AGUDO
Haverá eliminação de acento agudo em ditongos abertos “ei” e “oi”. Ou seja, jibóia passa a ser jiboia, idéia será ideia, heróico será escrito heroico. Não se acentuarão mais “i” e “u” tônicos quando precedidos de ditongos, o que significa que baiuca, feiura, entre outras palavras, não terão acento. Porém, palavras oxítonas mantêm o acento, como Piauí e tuiuiú.

ACENTO CIRCUNFLEXO
Palavras terminadas com duplo “o” não mais terão acento circunflexo. Vôo será voo, abençôo será escrito abençoo. Também não haverá mais circunflexo em palavras com duplo “e”, como vêem, lêem e crêem, que passarão a ser grafadas como veem, leem e creem.

ACENTO PARA DIFERENCIAR
Não será mais utilizado o acento para diferenciar as palavras. Por exemplo, pára (verbo) e para (preposição) serão escritas da mesma forma: para, sem acento. Permanece obrigatório o acento diferencial de tonicidade que distingue pôr (verbo) de por (preposição) e também o acento diferencial de timbre entre pôde (verbo no pretérito) e pode (presente).

ALFABETO
Passará a ter 26 letras com a inclusão do “k”, “w” e “y”.

DUPLA GRAFIA
Em palavras que antecedem “m” ou “n”, Portugal mantém o acento agudo enquanto Brasil continua a usar acento circunflexo, o que determina que ambas as formas são corretas, como académico/acadêmico e bónus/bônus.

HÍFEN
1) O hífen continua a ser usado em palavras compostas, como guarda-chuva e sempre antes de “h”, como em super-homem, anti-herói ou mega-hotel. Nos demais casos não há hífen, como em autocontrole e minidicionário;
2) Antes do segundo elemento que começa com “s” ou “r”, não haverá mais hífen se o prefixo terminar com vogal. Assim, a consoante precisará ser dobrada. Contra-regra será contrarregra, ultra-sonografia será ultrassonografia;
3) Se o prefixo termina por vogal igual à vogal que inicia a segunda palavra, há hífen, como em arqui-inimigo e mega-atividade;
4) Em caso de vogais diferentes, não há hífen: extraescolar, intraocular;
5) “Hiper”, “inter” e “super” possuem hífen se o outro elemento é iniciado por “r”, como em inter-relacionado ou super-rápido e “h” como em super-homem. Nos demais casos, não há hífen, como em supersônico;
6) “Circum” e “pan” têm hífen antes de elemento iniciado por vogal, “m”, “n” e “h”, como pan-americano;
7) Ex e vice mantêm o hífen existente hoje, assim como em ex-marido e vice-prefeito;
8) Continua existindo hífen depois de “pós”, “pré” e “pró”, como pós-graduação, pré-escolar e pró-educação e após prefixos além, aquém, recém e sem, como em além-mar, recém-casado e sem-número;
9) Não há hífen em expressões como fim de semana, sala de jantar e cão de guarda, somente em expressões consagradas pelo uso como cor-de-rosa e água-de-colônia;
10) Não há hífen quando se perdeu a noção de composição, como em aguardente, mandachuva ou paraquedista;
11) Após “sub”, usa-se hífen quando a palavra seguinte começar com “b”, “h” ou “r”, como em sub-base ou sub-humano. Nos demais casos, não há hífen, como em subsecretário;
12) Quando o prefixo é “mal”, separa-se por hífen quando o segundo elemento começar com vogal ou “h”, como em mal-afortunado, mal-estar, mal-humorado. Nos demais casos, vem aglutinado: malcriado, malvisto, malnascido e inclusive malmequer. Quando o prefixo é “bem”, separa-se quase sempre do segundo elemento: bem-nascido, bem-criado, bem-aventurado e bem-me-quer. São poucos os casos em que estão aglutinados, como em bendizer, benfeitor, benquisto.

LETRAS MUDAS
Esta será a principal mudança para Portugal, já que as consoantes não pronunciadas deixam de existir, como em acção, que será ação, directo, que passa a ser direto, e adoptar, que será grafado como adotar, assim como já acontece no Brasil.

TREMA
Será extinto das palavras de língua portuguesa, permanecendo apenas em palavras estrangeiras e nomes próprios como Müller e seus derivados, como mülleriano.

Tags: ,

Uma resposta to “Novo acordo ortográfico”

  1. john Says:

    muito nom

Deixe seu recado!