Saudade

Este é mais um post republicado, mas eu gosto tanto de lembrar do meu avô… Espero que gostem dessa recordação.

Eu nunca deixei de pensar no meu avô, nunca. Este ano completamos 10 anos sem ele conosco, porque se foi cedo, quando eu tinha 19 anos e ele ainda teria muita vida pela frente. Queria que pudesse ver como sou feliz, que tivesse ido ao meu casamento, que lesse meus livros. Mas, no fundo, eu acho que ele faz tudo isso sem que eu veja.

abr09_vovowalter03peqMaio de 1985 – Meu irmão, vô Walter e eu.

O vô Walter era o marido da vóva Lourdes, de quem sempre falo aqui. Pais da minha mãe, moravam ao lado da nossa casa, mesmo quintal, bairro italiano e família de origem portuguesa. Era um tanto chato quanto adorável. Quando eu era adolescente, chegava na ponta dos pés das baladas, de madrugada, mas sabia que ao passar pelo quintal ele abriria a janela de seu quarto e diria “isso são horas de chegar?”. Era preocupação e um amor do tamanho do mundo.

Meu avô não gostava de festas, de fotos, de badalações, de eventos. Mas me chamava de filha, soube anos mais tarde que carregava uma foto minha na carteira e não podia me ver doente que começava suas orações poderosas. Era um homem de muita fé, uma fé inabalável. Dava-me comprimidinhos para dor e pedia que eu deitasse em sua cama, onde o cachorro Stopa sempre dormia como seu fiel companheiro.

abr09_vovowalter01peqVovô Walter e Vovó Lourdes, em mil novecentos e bolinha.

O vô tinha um gênio que poderia ser difícil para alguns, mas era um homem bom, muito bom, de coração grande, de preocupação extrema, de carinho que transbordava. Andava pela casa com um sanduíche na mão e deixava migalhas por todos os cantos, como uma criança. Trocava o nome do gato, mas gostava muito de animais. Falava “ô ô ô” no início das frases e tinha os olhos azuis mais bonitos que eu já vi.

Esta semana eu pensei muito nele e sonhei com sua perfeita imagem sorrindo para mim e dizendo que me ama. Como se tivesse me feito uma visita.

Como uma homenagem ainda uso seu nome como meu nome. Tenho um bonito sobrenome da família de meu pai, mas passei a assinar o França e hoje gostaria que meu avô visse que o carrego em todos os trabalhos. É uma homenagem à família, de certa forma. Uma homenagem ao amor que não tem erro, que é puro e sincero. Amor de avô, sabe? Eu não o tenho mais comigo aqui, mas o seu amor ainda vive.

abr09_vovowalter02peqJulho de 1981 – Eu, com 1 ano e 10 meses, no colo do meu avô. Da esquerda para a direita: Vó Lourdes (de óculos), tia Lene, Tio Carlos (em pé), primo Luciano (escondido) com prima Carol no colo, Tia Tereza com meu irmão Flávio no colo (ele com dois meses), eu e o vô e meu pai Osvaldo. Mamãe devia ser a fotógrafa.

Família é TUDO.

Alegrias,
Fernanda.

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11 Respostas to “Saudade”

  1. Ana Says:

    Aaaaaiiiii, não tô nem enxergando o teclado… :õ(
    Sem palavras e sem ar.
    Beijo e boa semana!

    Fernanda França Reply:

    Tanta saudade dele, amiga!

  2. Lelei Says:

    Awn eses avós deixam um buraco no nosso coração quando se vão né…
    :*

    Fernanda França Reply:

    Nossa, se deixam! Queria tanto que ele tivesse conhecido o Má! :-(

  3. Yoyo Says:

    Um relato tão emocionado como esse, certamente nos emociona tb, Fe!
    Bjo no core

    Fernanda França Reply:

    Brigada, Yoyo! Um beijo enorme!

  4. Says:

    Recordar é viver. Bonito tudo isso.
    beijos, Jê

    Fernanda França Reply:

    Obrigada, querida!!! Beijo grande.

  5. Rafael Says:

    Eu me lembro do seu avô, das vezes que eu fui lá na sua casa e eu o vi. Eu me recordo das coisas de antiquário que ele tinha, a sala cheia de enfeites e bibelôs. Achava interessante!!!

    Como uma vez eu te disse eu não tenho lembranças boas dos meus avós paternos, ambos eram muito digamos… ditatoriais.

    Graças a Deus minha vó materna está viva e eu gosto muito dela. Minha vó Quitéria foi diferente.. é diferente até hoje.. sempre me ensinou coisas do passado, inclusive marchinhas de Carnaval antigas que pouco conhecemos e músicas exaltando Getúlio Vargas.

    Fico contente de ver que pra você ele foi verdadeiramente um vovô! E sim… eu me lembro dos olhos dele, eram lindos!!!

    Abraço vovô Walter!!! Onde o senhor estiver!!!

    Fernanda França Reply:

    Eu sempre acho que meu avô nunca deixou de olhar por nós, acredita? beijos, Rafa!

  6. 95 anos de muita doçura. | Says:

    [...] tia-avó é uma doçura. É essa a imagem que eu tenho dela. Irmã do meu avô Walter, pai de minha mãe. E vê-la com saúde, lucidez e ainda ótimas tiradas aos 95 anos é uma alegria [...]

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