Archive for the ‘Ficção-Minicontos’ Category

Você, leitor, me ajuda a continuar a história! (3)

segunda-feira, maio 17th, 2010

Para ler a parte 1, clique aqui.

Para ler a parte 2, clique aqui.

Ali estavam seu ex-marido e a mulher por quem Lara havia sido trocada. Não trocada, porque é palavra forte, mas a sua ex-amiga, ex-vizinha e ex-confidente. O seu melhor amigo durante anos, aquele seu primeiro amor que estava na mesa com ela, não deve ter entendido a expressão de Lara. Ela cerrou os dentes e se tivesse coragem, teria levantado da cadeira e dado um tapa em cada um. Como podia estar tão feliz naquele momento e se deixar machucar por aquele canalha era um mistério. O mistério de um casamento desfeito.

Mas Lara não precisou levantar. O ex-marido chegou perto de sua mesa e como se não estivesse acompanhado, fez uma pergunta que soou ridícula.

- Olá, Lara. Não me apresenta o seu amigo?

Ela não podia estar ouvindo aquilo. Era patético. Então Lara descobriu que não precisaria dizer nada, mostrar nada, insinuar nada para dar o troco. O ciúme do ex-marido era tão evidente que ela quase soltou uma risada. Olhou com cumplicidade para seu amigo, que deixou uma nota em cima da mesa, pegou em sua mão e a levou para fora do café. O ex-marido e sua acompanhante ficaram como estátuas. Nada foi dito, mas tudo foi compreendido.

Na saída, o seu melhor amigo, o seu antigo amor, convidou Lara para passar o final de semana no sítio com sua família. Afinal, ela não era uma estranha. E Lara aceitou. Porque, oras, ele não era um estranho. E a história de um dia que começou desastroso terminou com a melhor das promessas para Lara. A promessa de que a tristeza nunca é eterna.

FIM

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Obrigada à Osinete (que comentou no primeiro post, e a história já tinha um rumo, rsrsrs, por isso vou ocupar sua ideia em outra ocasião, certo?) e à Ana e Audrey, que participaram mais uma vez. Adorei a experiência de escrever com vocês, muito bacana!!! (Viu, Ana, final feliz! Eu só escrevo histórias com final feliz, hehe)

Quando quiserem sugerir um tema, fiquem à vontade. E já que estamos falando de escrever, não deixem de ler sobre o Desafio Nacional no post aqui embaixo.

Alegrias,

Fernanda.

Você, leitor, me ajuda a continuar a história! (2)

sexta-feira, maio 14th, 2010

Para ler a parte 1, clique aqui.

O telefone tocou e Lara ouviu a voz cansada do chefe do outro lado da linha. A reunião estava cancelada, o que era bom porque, afinal, ela havia esquecido a bolsa em casa. Teve o dia de folga e ficou sem rumo. O trabalho era seu escape, como se ela fugisse da própria vida quando era profissional. Sem relatórios, era só uma mulher com vestido sujo a caminho de nenhum lugar. Parou na banca de jornal e percebeu que conhecia o homem que estava ali.

– Lara? Lara, não acredito! Nossa, que surpresa maravilhosa! Você continua linda! – Era ele, seu grande amor, seu maior amor, aquele que conhecera muito antes que qualquer ex-marido pudesse existir. Aquele homem havia sido seu melhor amigo durante tantos anos, mas ela sempre soube que não era o que queria dele. Entre pensar que era muito sorte encontrá-lo e responder que sim, iria ao café com ele, foram poucos minutos de conversa. Lá de dentro pode ver quando o canalha do ex-marido passou com uma mulher pela calçada. E foi quando se perguntou por que é que havia se casado com ele?

Então, o casal entrou no café.

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Opa, estou gostando da história, e vocês? ;-) Obrigada à Carol, Ana, Thayná e Audrey que me ajudaram nessa segunda parte. Todas tiveram participação, eu dei um jeitinho de colocar um pedaço de cada uma aqui, curtiram? O mais interessante é que essas histórias, hum, densas, são completamente diferentes da leveza e comicidade de Blanda, perceberam?

E agora, o que vai acontecer com Lara? Deixe no recado sua sugestão. Vamos terminar essa história?

Alegrias,

Fernanda.

Você, leitor, me ajuda a continuar a história!

quarta-feira, maio 12th, 2010

Lara saiu de casa, atrasada como em todos os dias, mas daquela vez não seguiu o ritual café-escovardentes-pegarbolsa-alimentarcão-sair. A preocupação com o relatório que iria apresentar era tanta que não tomou café, apenas escovou os dentes; não pegou a bolsa, mas alimentou Joca e saiu. O salto enroscou na calçada esburacada (por que ainda uso salto alto se o médico disse que me faz mal?) e ela tropeçou quando pensava em dar aquele par. Caiu em uma poça de água fedorenta e gritou alto um palavrão. Por que as manhãs tinham que ser daquela maneira? Desde que Gilberto saíra de casa, ela nunca mais fora a mesma. Estava distraída, andava atrasada, pouco conversava e mesmo que não tivesse a menor intenção de aceitar o cretino do ex-marido de volta, não parava de pensar nele. Por que ele fizera aquilo? Quando levantou, tentou secar o vestido sujo e antes de chegar ao trabalho teve uma surpresa.

Você, leitor, me ajuda a continuar a história!

Qual foi a surpresa que Lara teve?

A partir da resposta de um recado deixado aqui, eu continuo a história :-) E sim… pode ser o que você quiser! Afinal, nem eu sei como essa história vai continuar. Só depende de você.

Alegrias,

Fernanda.

Frenética vida de Lurdinha

domingo, novembro 8th, 2009

Não é que Lurdinha não sabia que queria. Ela sabia, mas não conseguia admitir. A vida parecia boa demais para que ela dissesse em voz alta o que se passava pela sua cabeça. Hoje, depois de mais um sonho com aquele vizinho estranho do andar de baixo, Lurdinha se deu conta que poderia precisar de um psiquiatra. O vizinho não estava tentando matá-la, não era possível. Assim como seu marido não era tão ruim como ela pensava. Porque, afinal, a vida parecia boa demais. Para os outros. Depois de uma ducha quente, mesmo em um dia igualmente quente, ela colocou saltos altos e esqueceu a bolsa. No trânsito, um guarda narigudo parou o carro e o documento não estava com ela. O marido de Lurdinha desligou o telefone sem ouvir uma palavra e depois de dizer “estou em uma reunião”, mas a sua própria reunião começaria em meia hora e ela estava dentro do carro com a polícia ao lado. Foi liberada, mas só depois de um amigo, que conhecia a polícia porque era jornalista, ter dito que estava tudo bem. Lurdinha odiava esse amigo, na verdade, porque ela odiava todos os jornalistas filhos-da-mãe e que adoram violência. O salto quebrou na entrada do elevador e ela chegou atrasada para a reunião. Deu com a cara na porta de vidro que estava fechada e lembrou-se que precisa usar óculos. Podia marcar, então, psiquiatra e oftalmologista de uma só vez. O colega de baia foi demitido, que merda, ele era muito melhor do que ela, pensou. Na saída, o chefe babaca a chamou na sala e fez insinuações a que ela teve vontade de responder com um cuspe. Resolveu fingir que não era assédio e comentou que estava atrasada para o jantar com o marido, que não existia. O jantar. E quase o marido, considerando a quantidade de vezes que Lurdinha jantara com ele nos últimos meses. Sentada na sala, sozinha, pensou no vizinho mais uma vez, lembrou do sonho e da vontade de gritar que tudo o que ela queria, na verdade, era morar no meio do mato, perto de bichos e com um companheiro que lhe fizesse o jantar. Lurdinha não pedia muito. O que tinha podia parecer tanto para umas, mas não para ela. E como não sabia por onde começar, no dia seguinte tomou o banho gelado, usou tênis, chamou um táxi e pediu demissão e o divórcio, começou terapia e a usar óculos. Três meses depois reencontrou o vizinho em uma festa e descobriu que seus sonhos estavam totalmente errados. Ele era chefe de cozinha e em seis semanas se mudaram para uma casinha no meio do mato.

No telefone

terça-feira, outubro 27th, 2009

Quando Cláudio atendeu o telefone, a postura mudou, a voz engrossou e ele mandou ver nos comentários machistas. Do outro lado da linha, Jonas estava acompanhado pelo trio Alberto, Moisés e Felipe. Em uma mesa de bar, tomando cerveja e dando risada.

- Falaê, Claudião, e a vida? Quê? Ah, é? Hahaha! Cara, você é um barato. Gente, o Claudião tá contando que pegou umas minas lindas. Sabem a Veruska, aquela da bundinha empinada que estudou com o primo dele? Fala, Claudião, pode falar. Quê? Ah, cê tá contando porque a mulher não tá por perto, é safado? Tá na piscina? E você aí tomando solzinho em vez de tomar cerveja com a gente, viado? Tá, tá bom, já saquei. Sei como é a vida de homem casado. Quer dizer, saber eu não sei, mas eu imagino como é a prisão.

Todos na mesa riram. Cláudio riu também, claro. Antes de desligar, ainda fez piada com mais duas ou três garotas e a mesa do bar ficou entusiasmada com a virilidade do amigo que tinha tantas mulheres. Apertou o botão, desligou o aparelho, relaxou e soltou um som de alívio. Estava livre mais uma vez.

O problema de Cláudio não era que ele não conseguia parar de sair com as outras, mas confessar para os amigos que tudo não passava de mentira. Porque o problema mesmo era admitir que ele era casado e fiel e que não tinha a menor vontade de sair com as outras. Mas com que cara ele diria aquilo? Nem morto, pensou. E então foi pra piscina.

Esmalte

quinta-feira, outubro 1st, 2009

Eu tinha ganhado uma promoção na loja e ia virar gerente. Eu, gerente. A felicidade era tanta que saí do trampo e fui à manicure pintar as unhas da cor mais vibrante que encontrei. E linda.

- Gil, eu tenho uma novidade – disse quando cheguei à casa do meu namorado.

- E posso saber qual é?

Mostrei as mãos coloridas e dei um sorriso largo.

- Adivinhaaaaa!

- Por que você está com as mãos pintadas dessa cor?

- Vai, Gil, isso não tem a ver. Gostou? – perguntei com dengo.

- Hummm…

- Não gostou?

- Não gosto dessas cores berrantes.

- Por quê?

- Fazem você parecer… sei lá… Eu prefiro aquele branquinho.

- Renda? Mas eu passo renda toda semana.

- Fica com jeito de moça direita.

- Você tá dizendo que o esmalte me faz parecer moça não-direita?

- É que… mais ou menos… Ah, pára com isso. Conta a novidade.

E eu parei com aquilo. Mas antes que o monstro fosse alimentado e se tornasse engolidor de moças-não-direitas-de-unhas-berrantes.

- A novidade, Gil, é que eu descobri que você é um babaca. Tô indo. E não venha atrás.

E eu fui.