Archive for maio, 2008

Pré-opinião

segunda-feira, maio 26th, 2008

Certo dia eu ouvi uma amiga falando mal de outra amiga. Não dela, mas minha. Como ela não sabia que eu a conhecia, foi fácil falar o que lhe veio à cabeça, mesmo sem a conhecer. Aquilo martelou por dias os meus pensamentos sobre pré-opiniões, que são as que emitimos sem ter conhecimento do assunto. Todos caímos nessa armadilha, diariamente. Não duvide.

A minha amiga em questão, aquela de quem a outra falou mal, é uma pessoa incrível. Claro que só quando eu estreitei a relação com ela pude perceber isso. De longe, não somos o que somos, essa é a verdade. Você pode me ver na rua e julgar que eu sou esnobe porque não cumprimentei quando me fez um aceno, sem saber que eu não enxergo bem, mesmo de óculos ou lente de contato. Você pode achar que eu sou entojada porque tenho cara de ser, vai saber. Mas não sou, não. E isso provavelmente você só vai saber se quiser me conhecer de verdade.

Aconteceu não só nesse caso das amigas como pode acontecer a cada um de nós em muitos momentos. Uma amiga perdeu a oportunidade de conhecer uma pessoa sensacional porque não quis. Porque o seu pré-pensamento julgou que não seria válido. E perdeu a chance de conhecer uma das pessoas mais generosas e bacanas que eu já conheci.

Eu mesma já passei por isso. O caso mais clássico é quando tinha 12 anos e marcamos uma reunião de teatro no shopping. A turma era grande, mas só aparecemos eu e a Carol. Nós nunca tínhamos trocado uma palavra nos ensaios porque… bem, porque nós não queríamos ser amigas, certo? O motivo? Nós achávamos que a outra não era “legal”. Eu achava que a Carol, com aquele porte de modelo de passarela, deveria ser metida e ela me disse depois que me achava escandalosa porque eu falava alto e “com as mãos”. Resultado? A oportunidade de nos conhecermos de verdade, em um dia com mais ninguém presente, fez com que nos tornássemos grandes amigas. Até hoje, 16 anos depois.

Criticar sem fundamento ou palpitar sem procurar entender é o primeiro passo para perdemos o presente de conhecer o que é verdadeiro.

Alegrias,
Fernanda.

Só uma pergunta

quinta-feira, maio 22nd, 2008

Escrevi sobre livros no post passado, mas acho que vocês não curtem muito o assunto, né? Tudo bem, tudo bem…. (risos) Posso fazer só uma pergunta? No dia em que eu lançar o meu livro, vocês vão comprar e ler? Respostas logo abaixo, na caixa de comentários, ou no campo de contato do site. Obrigada e voltem sempre. Sorteio de uma bala Juquinha entre os que deixarem resposta.

Agora vamos falar de televisão, porque tem gente que acha que TV é coisa de acéfalo, mas na boa, eu passo o dia inteiro mergulhada em notícias de jornais e internet que eu bem que gosto de ver uma tranqueira na telinha de vez em quando. Como já disse, acho a novela do horário nobre da emissora nobre muito ruim, mas… ah, existe um grande “mas” aqui… essa noite algumas cenas foram fantásticas.

Como é que escolhem Laura Cardoso para fazer o papel de mãe do Ferraço (Dalton Vigh) e uma cena não vai ficar boa? Aquela mulher é demais. Uma das minhas atrizes preferidas. Ela faz bem comédia, drama, tragédia, tudo. A cena em que ela reencontra o filho foi emocionante. Eu já vi Laura Cardoso em uma peça há alguns anos e nunca vou me esquecer. Estava com minha tia e conseguimos lugares bem longe do palco. Sem conseguir ver direito (mesmo de óculos ou lente, minha visão é bem limitada), eu me contentei em prestar atenção ao que podia. Pois eis que entra Laura Cardoso e eu, mesmo sem identificar o rosto, disse “Tia, essa é ela, né?”. Pela presença de palco. Pela postura. Pela voz. Por ser ela, só isso. Que atriz!

Muito bem, e para finalizar, uma foto da família em clima de descontração:

_mai08_family

Bom feriado para quem tem feriado e para quem como eu não sabe o que é isso, bom trabalho.
Alegrias!
Fernanda.

Ensaio sobre a cegueira

domingo, maio 18th, 2008

Quando comprei “Ensaio Sobre a Cegueira”, de José Saramago, há alguns meses, eu não lembrei do fato de que um filme estava sendo rodado baseado no texto do escritor português e ainda mais com direção do brasileiro Fernando Meirelles, do ótimo “Cidade de Deus”. Na verdade, eu sou uma louca por livros e depois que os compro eles podem passar meses na estante, até serem escolhidos. Há poucos dias, encontrei Saramago e agora não consigo tirar da cabeça: como é que eu não li antes nenhum livro desse homem?

“Ensaio Sobre a Cegueira” é brilhante. Do começo ao fim, pela linguagem diferente e única utilizada pelo autor (quero ver um doido qualquer tentar colocar vírgula no lugar da interrogação pra ver o que sairia), uma história incrível, personagens bem construídos e sem nome, narrativa que prende a atenção. Eu não queria parar de ler e chegar ao fim foi um alívio e ao mesmo tempo uma saudade. Sempre tenho essa sensação quando acabo de ler uma obra prima.

Entre livro e cinema, fico com o primeiro. Mas também adoro cinema, de verdade. Não sei como um texto denso como esse ficará na telona, mas o diretor é fera e deve ter feito um trabalho maravilhoso. Estou curiosíssima para ver o resultado. Por enquanto, já penso no fim da quarentena de marido para escapar a uma livraria e adquirir mais obras de Saramago.

Falando em literatura, eu atualizo sempre a lista de livros lidos aí ao lado esquerdo no blog. Passei a colocar um resumo e minha opinião sobre cada obra este ano.

Em tempo: O blog do filme Blindness (Cegueira), escrito pelo Meirelles, é esse. E é uma delícia de ser lido.

Boa semana a todos, com muita leitura. Ler é uma grande viagem.
Alegrias,
Fernanda.

Meu pai

quinta-feira, maio 15th, 2008

_mai08_homens02Eu e ele

Quando ele tinha a idade que tenho hoje, eu nasci. Com os olhos iguais aos dele, o mesmo nariz, a mesma cor de cabelo, os mesmos traços do meu pai. Ainda criança, ele dizia que se tivesse nascido menino, eu me chamaria Snatislavski. Eu acreditava. Não sei se podia imaginar a alegria que era quando ele chegava em casa do trabalho, sempre tão tarde. Nunca me bateu. O seu olhar me mostrava quando não devia fazer algo. O tempo nos aproximou, ele foi às minhas peças de teatro, festas na escola e sempre fez questão de dizer que era um orgulho formar uma filha na faculdade. Eu é que sou cheia de orgulho de ser filha dele. É um homem inteligentíssimo e teria sido um ótimo professor de matemática, se a vida tivesse lhe mostrado caminhos profissionais diferentes. Era ele quem me ajudava com as lições de casa da área de Exatas. Faz conta de cabeça numa rapidez que só quem é de comércio sabe. Mas o que mais marca a sua personalidade é o caráter íntegro. Meu pai é honesto de um jeito raro de se ver hoje em dia. Com ele aprendi que deitar a cabeça no travesseiro sem peso na consciência não tem preço. A cada dia ele me mostra como é correto, justo e amoroso. Hoje em dia, não tem mais medo de dizer que ama. Quando fiquei doente, difícil era ver tamanha dor, contida em lágrimas rasas para passar tranqüilidade a quem não conseguia ser forte. Nos abraçamos, beijamos, ligamos pra saber se está tudo bem e não cansamos de dizer o quanto a vida do outro é importante. Ele fez aniversário há poucos dias, no hospital e tomando conta do meu marido como se fosse mais um de seus filhos e eu não sei nem como agradecer tamanho amor. Além de ser um cinqüentão enxuto e bonitão, é uma companhia pra lá de especial. Conta as piadas mais bobas e ao mesmo tempo mais divertidas. Seu bom-humor é uma marca. O dia dele já passou, eu continuo emotiva como nunca e queria deixar registrado aqui o tanto de felicidade que tenho por ser sua filha. Não exagero em dizer que ele é o melhor pai do mundo. Há quem diga que a relação com a mãe é única. Mas eu digo que com o pai também. Deus me deu um presente valioso enviando esse homem como um exemplo a ser seguido. Pai, obrigada por tudo! Amo você. Muito.

_mai08_homens01Os homens da minha vida: meu irmão, meu pai e meu marido

Minha mãe

sexta-feira, maio 9th, 2008

mai08_mami

Minha mãe é professora e foi a minha mestra na vida e na sala de aula. Quando era sua aluna, não aprendi só Ciências (que ela ensina lindamente), mas tive lições de honestidade. Foi quando aprendi a dar valor às notas que eu tirava e que não ganhava. Minha mãe nunca me proibiu de ver suas provas, mas me mostrou que o caminho mais delicioso para a vitória era aquele em que eu mesma chegava sozinha. Nunca vi uma questão sequer, sempre estudei e tirei boas notas e me orgulho de ter aprendido tudo isso com a minha mãe.

Minha mãe é moderna. Desde antes de eu nascer, ela decidiu que continuaria estudando e trabalhando mesmo depois do casamento. Em uma época em que as amigas muitas vezes optaram pelo (honrado) trabalho do lar, minha mãe comunicou que trabalharia fora. Eu e meu irmão fomos criados com muito amor, mesmo sabendo que ela não estaria em casa em todos os momentos por causa do trabalho. Minha mãe é um orgulho pra mim. Eu sempre admirei o fato de ela dar aulas de manhã, tarde e noite, e ainda ter a atenção de fazer carinho nos meus pés para eu dormir. Minha mãe devia ser a única, até agora, que sabia que eu gosto de carinho nos pés para dormir.

Minha mãe é artista. Pode ser que ela mesma já tenha se esquecido, mas eu não. Eu me recordo do cheiro de tinta pela casa e só adulta consegui entender o amor de mãe que a fez parar suas pinturas por causa da filha com problemas respiratórios, que não existem mais. Minha mãe gosta de cores, mas de tantas cores que em casa é conhecida como a brilhante. Se ela pudesse, se vestiria de luzes. Mas é a cara da minha mãe.

Minha mãe é preocupada. Tão preocupada que chega a deixar maluco quem estiver ao redor. O coração parece que não vai caber no peito de amor pelos filhos e a tecnologia a aproxima dos dois que moram cada um em uma cidade diferente de onde nasceram. Hoje, minha mãe é tecnológica. Acessa e-mails, páginas na internet, prepara as provas dos alunos no computador, envia torpedos pelo celular e até fotos. Mas a preocupação ainda é grande. Minha mãe esteve comigo nos momentos mais alegres e mais difíceis. Passou dias na porta de uma UTI só esperando o momento em que poderia entrar para ver a filha. Trocou bilhetes “clandestinos”, que enviava pelo funcionário que topasse entregar a cartinha cheia de carinho e de força. Minha mãe nunca me deixou sozinha.

Minha mãe acredita em Deus e me ensinou a rezar quando era pequena. Fazíamos uma roda de mãos dadas e agradecíamos ao Papai do Céu pela nossa vida. Minha mãe sempre soube antes o que era bom pra mim, mas nem sempre eu sabia disso. Minha mãe gosta de ler o que escrevo no jornal, mas se o texto é muito longo, ela desiste. Ela torce por mim, não só para que aconteça o que quero, mas para que aconteça o melhor. Eu demorei a entender isso. Vai ver que vou entender cada detalhe de minha mãe no dia em que for mãe.

Minha mãe é chata. E mesmo sendo chata, eu rio com minha mãe. Conto tudo para ela e não consigo esconder os sentimentos. Minha mãe tem uma mãe que é minha mãe duas vezes. Uma outra mãe que é diferente dela e que é diferente de mim. Juntas, todas em uma grande diferença, somos parecidas e unidas pelo amor. Minha mãe não é igual a mim. Muito pelo contrário, porque não somos parecidas fisicamente (uns dizem que nosso sorriso é parecido) e temos maneiras diferentes de ver as coisas e agir em determinadas situações. Mas ela é minha mãe mesmo assim. E eu a amo do jeitinho que ela é. Deus, obrigada pela minha mãe. Mãe, obrigada por ser você.

Minha mãe me ensinou que presentes não têm data para acontecer. Lá em casa, não raro era eu aparecer com uma cartinha escrita à mão, sem presentes. Ou esquecer a data que determinaram que seria dela. Porque o dia da minha mãe era todo dia. Ainda é todo dia. Eu digo que a amo sempre, porque isso é o que importa. Mesmo assim, não poderia deixar passar esse Dia das Mães. Para ela e todas as mães, Feliz Dia. Todos os dias.

Fernanda.

Dar valor ao que importa

segunda-feira, maio 5th, 2008

Primeiro nós passamos horas na enfermaria, depois dividimos o quarto com um rapaz que estava com dengue (a doença me deu medo, acreditem) e só então fomos para o quarto, ainda sem o diagnóstico do que marido tinha. Assim se passaram dias desde a terça à noite até o sábado de manhã quando, com a certeza do problema, marido foi operado. Confesso que fiquei com medo antes, que chorei, que supliquei por sua melhora. Tudo ao meu redor, absolutamente tudo, perdeu o sentido. Só queria que ele ficasse bem e agora meus desejos estão sendo atendidos. Ainda internado, está acompanhado pelo meu pai – enquanto tento voltar ao trabalho depois de todos esses dias – e apresenta melhoras a cada momento. Em casa ainda vai ser mimado, quando voltar. E ter uma licença forçada, porque só nessas horas que vemos que a máquina do corpo humano também tem seu limite.

Eu sempre disse que saúde era o mais importante nessa vida (leia o post passado, por favor). Parece que quando passamos por uma situação difícil, acreditamos que estamos “imunes” ao repeteco. Mas não é assim. Lidar com nosso próprio sofrimento não é fácil, mas posso dizer que quando vemos quem amamos sofrer, a dor é como se fosse em nós. Por que, como, de repente, aquele homem saudável e brincalhão sofria com dores? Como assim precisaria ser internado, sem previsão de tempo de cirurgia? Não dá para entender e a aceitação só vem com a fé. Não estamos livres de nada, não podemos prever o futuro, não temos controle nem mesmo da nossa própria vida. Nas nossas mãos estão a saúde – para darmos valor – e a chance de fazer um dia melhor do que o outro. Com valores certos àquilo o que realmente importa.

Mais uma vez, um brinde à saúde. De quem tem para sempre ter, de quem perdeu para recuperar e de quem se recupera para não esquecer o quanto é valiosa.

Excelente semana a todos.
Alegrias e saúde,
Fernanda.