Archive for outubro, 2008

Ficção – Escolhas de Deise

segunda-feira, outubro 27th, 2008

Quando era criança, não pensei em ser outra coisa que não mulher casada. Conheci o Henrique quando tinha 17 anos e me apaixonei perdidamente – mas perdida fiquei quando resolvi casar. Na verdade, nunca saberei se foi amor, porque antes dele só havia paquerado o vizinho, que tinha 10 anos a mais e me achava uma menina (o que, de fato, eu era). O Rique tinha quase a minha idade, trabalhava com o pai em uma construtora e tinha muito dinheiro. Na verdade, o pai tinha muito dinheiro. Para meus pais, era o Rique um afortunado endinheirado.

Estudei até o terceiro ano do colegial e Rique, que não pensava em fazer faculdade, não me incentivou a cursar uma também, afinal, não iríamos precisar. Com aqueles olhos verdes, ele me conquistava a obedecer. Eu apenas dizia sim e pronto, se ele estava feliz, eu também estava. Assim, nós casamos quando eu completei 18 anos e fomos morar em uma das casas de seus pais. Uma das muitas que eles tinham.

No começo, eu era feliz. Eu acho que era feliz, porque se aquilo não era felicidade, eu não sei o que pode ser e me sinto constrangida em pensar que posso nunca ter sido feliz de verdade antes de agora. Mas até chegar agora muito passou.

Rique chegava tarde em casa e eu tinha empregados para fazer tudo por mim, mas como não trabalhava, eu mesma me aventurava na cozinha para preparar o jantar que, aliás, ele quase nunca comia.

Logo veio o Riquinho. Eu não queria esse nome, mas como tudo na vida, não parei para discutir. Ele quis colocar seu nome no filho, estava tudo certo, então. A Regina veio logo em seguida. Os dois não tinham nem um ano de diferença e por muito tempo eu esqueci de mim. Era como se eu não existisse. Rique voltava cada vez mais tarde e as poucas vezes em que eu saía era para eventos de sua empresa. Quando ele dizia que eu podia ir. E eu nunca questionei.

Meus filhos cresceram, foram para a escola e eu tinha orgulho daquelas duas criaturas. Minha vida era dedicada a eles e ao meu marido e era uma boa vida, uma vida confortável. Até que, um dia, num daqueles dias em que o Rique chegava tarde, eu disse que prepararia um lanche enquanto ele tomava banho. Encontrei uma mancha de batom no colarinho da camisa, aquela coisa clichê-ridícula-que-parece-mentira. Mas era verdade. O meu marido “perfeito”, aquele que todos diziam que era um presente dos céus, era um traidor mentiroso.

Quando mostrei a camisa, do lado de fora do Box do banheiro, ele desligou o chuveiro, enrolou uma toalha no corpo e disse apenas Não comece com sermão. Que ótimo, eu tinha acabado de descobrir uma traição e meu companheiro me mandava não começar com um sermão? Completou que não queria lanche nenhum e ia dormir. Foi para a cama como se nada tivesse acontecido. E passei aquela noite no banheiro chorando. E imaginando onde eu estava? Aquela Deise de 17 anos tinha morrido e todos os meus sonhos tinham ido junto para a cova.

No dia seguinte, quando saí do banheiro, ele já tinha ido embora para o trabalho e levado as crianças para a escola. Na hora do almoço eu as busquei, passamos em casa para arrumar as malas e disse apenas para que confiassem em mim. Sem despedidas, sem explicações, sem gritos ou desespero, escrevi uma carta com a palavra Adeus e deixei sobre a cama. Fomos embora para a casa dos meus pais. Eu não tinha casa. Nem a casa era minha. Por anos eu vivi os sonhos do traidor, as vontades dele no ambiente dele.

Em poucos dias eu aluguei uma casa e instalei as crianças no mesmo bairro para que pudessem ficar perto dos avós. E percebi que não queria pensão porque não desejava nada que vinha daquele homem. Nada. Se eu não tive amor por quase 10 anos, não seria agora que iria pedir dinheiro.

Na primeira visita ao mercado eu percebi que nem sequer sabia mais do que eu gostava. Não sabia qual comida comprar e nem mesmo qual pasta de dentes escolher. A prateleira me mostrava um mundo de possibilidades que eu nunca tive. Pela primeira vez, eu poderia escolher. Nem que a escolha fosse pelo mais barato. Era a minha escolha e eu dei muito valor.

A única coisa que eu sabia fazer era comida. Por causa dos meus treinos naquela cozinha com duas cubas, um metro de pia de granito para abrir as massas, um fogão de seis bocas e todos os utensílios mais bonitos que se via em revista, eu aprendi a me virar com um fogão vagabundo que comprei usado, uma pia minúscula e itens de plástico do mercadinho. E comecei a entregar marmitas.

Em pouco tempo, tive que contratar uma moça para me ajudar. Colocamos na porta da casa alugada uma placa que dizia Cozinha da Deise e instalamos mesinhas no quintal. A clientela cresceu e eu abri um restaurante. Eu podia viver sozinha. Meus filhos cresceram e aos 17 anos Regina conheceu um rapaz por quem se apaixonou. Foi naquele dia que eu tomei uma decisão. Iria conversar com ela como nunca tinha feito em toda a nossa vida.

Eu não vou proibir nada, minha filha. Muito pelo contrário, porque namorar é saudável. Mas não cometa uma loucura. Vá estudar, vá se divertir, sair com suas amigas, aprender um ofício e então você poderá pensar se quer se juntar a alguém. Eu vou te contar a minha história, filha… e a decisão, depois, será sua.

Regina casou-se aos 30 anos com o mesmo rapaz, depois de anos de namoro e os dois terem concluído a faculdade. Hoje eu sou uma mulher ocupada. Além da minha rede de restaurantes, que estão espalhados por todo o país, ajudo a cuidar dos meus dois netos, um de cada filho. Tenho um namorado, mas não quero mais casar. Em compensação, quando vou ao mercado hoje em dia, eu sei exatamente o que comprar. O que eu gosto, o que eu quero. Hoje, aos 55 anos, eu sei quem eu sou, pela primeira vez na vida.

Meus livros. Onde?

quinta-feira, outubro 23rd, 2008

Essa semana, coincidência ou não, várias pessoas me perguntaram sobre os meus livros e onde poderiam comprá-los. Entre elas, teve a Deborah que deixou recadinho e a fofa da Sara, que escreveu lá do Japão querendo saber em que site poderia encomendar. Aí teve gente nova como a Ana Beatriz com recado carinhoso e e-mails bacanas como o da Graziele. Esqueci alguém? Certeza que sim, mas desculpem. Sou o ser mais esquecido do universo (tipo filme “Como se fosse a primeira vez”, sabem?).

Obrigada mesmo. Cês são tudo fofas. Mas olha, eu resolvi escrever esse post para explicar, porque eu escrevo livrinhos, sim (que eu chamo carinhosamente de livretos), mas eles ainda não foram publicados. Como? É, eles existem, inteirinhos, prontinhos, feitos com amor por uma jornalista que dedica noites, finais de semana e férias para que eles fiquem do jeito que estão, mas não foram publicados – ainda.

O mais recente é “Nove Minutos com Blanda” e atualizei a história lá no marcador “Livros” para quem quiser ler. Foi escrito em dois anos e me deu muito prazer. Eu dou risada de ler novamente, dá para acreditar? Viram como é bom ter memória curta? ;o) Blanda tem quase 30 anos, está desempregada, mora com o gato Freddie e tem um namorado que… bem… não pode muito bem ser chamado de “cara metade”, não. É um baita folgadão, que deixa as meias fedidas no sofá branco, larga as cuecas para ela lavar e não trabalha – porque trabalhar cansa, né.

Mesmo nesse cenário pavoroso, não é que Blanda se vê no pé do altar com esse maluco? A mãe e a sogra decidem organizar o casamento e como ela mesma não acredita em contos de fadas, acaba deixando a vida correr até que… de repente, quando a porta giratória do banco pára e ela acaba morrendo de vergonha com uma calcinha rosa choque nas mãos, na maior confusão quando tenta tirar tudo da bolsa, conhece um cara que é tê-u-dê-óh. E esse gato vai mexer com a vida dessa noiva. Muitas confusões acontecem, não dá nem para imaginar. E Blanda e seus amigos se metem em muitas aventuras.

Esse aí é meu livreto mais novo, um chick lit, uma comédia romântica, um delicioso conto de fadas moderno. Mas também, ainda, não está publicado.

Ai, amores, eu agradeço muito cês terem escrito, mas não posso fazer nada agora. Sei lá, podemos juntas fazer fézinha, dança da chuva, qualquer coisa feliz e de bem para torcermos juntas para que ele seja publicado. Pecado tanta leitora ficar sem ler, né não? Mas é isso aí. Divulguem o site pras amigas, mandem e-mail, deixem recados, entrem no meu orkut, vamos bombar esse site aqui e quem sabe não tombamos com um editor esperto que queira publicar, hein hein hein?

Essa foi minha explicaçãozinha procês, porque estava até sem jeito de explicar a verdade nua crua sem sal. Me dêem apóio, mandem beijinho.

Smacks.
Alegrias!
Fernanda.

11 – Colonia – FIM

quarta-feira, outubro 22nd, 2008

(Galera do bem, acabamos aqui o roteiro – imenso, eu sei – da viagem ao Uruguai com uma passagem pela Argentina. Obrigada a todos que acompanharam essa aventura. Espero termos mais em breve, porque viajar é bom demais. Agora vamos todos trabalhar, que o trabalho enobrece o ser humano e destrói a sanidade. Vambora! Tô cheinha de idéias pros próximos posts, pode deixar sua dica aí também. Ah, você já conhece nossa comunidade no orkut? Vai lá!)

Saímos de manhã do albergue em Buenos Aires, pegamos o Buquebus e voltamos ao Uruguai, na cidadezinha que é a mais próxima da Argentina: Colonia Del Sacramento. O território foi, por muitos anos, motivo de luta entre Espanha e Portugal. Acabou sendo colonizado em parte por cada um dos dois países e é um espaço único no mundo. Seu apelido, inclusive, é “maçã da discórdia”. De um lado se vêem casas tipicamente portuguesas, de outro estão as casas espanholas. É tudo tão bonito, detalhado, preservado, que vale a pena visitar. Para nós, no Brasil, uma cidade colonial assim é mais comum do que para os uruguaios, ainda assim, Colonia tem charme e elegância.

uruguay01Construção da charmosa Colonia

Ficamos no hotel Bahia Centro, no centro comercial, a dois minutos a pé do centro histórico. Há uma grande vantagem na localização do hotel: quando chegamos com as malas no porto (o mesmo vale para quem chega de ônibus, porque a rodoviária é ao lado), não precisamos nem de táxi, porque estávamos a apenas três quadras do hotel. E ao mesmo tempo, estávamos muito próximos ao centro histórico. Além disso, o hotel tem bom preço, ótimo atendimento, quarto limpo e ainda passa por uma reforma, o que deverá deixá-lo ainda melhor.

uruguay02Meu amor em Colonia

Deixamos as malas e fomos caminhar. Visitamos a Igreja Matriz e almoçamos no restaurante logo em frente, o Drugstore, em que se pode comer dentro de antigos carros. Vimos a Plaza de Armas (linda), o forte e a Porta da Cidade, ainda mantida intacta, tão bela! Lá era o local de trabalho de um simpático artista vestido de palhaço. Fomos à Plaza Mayor, também chamada de 25 de Mayo e chegamos à Casa de Pou, que foi recuperada e hoje abriga diversas atividades para a comunidade local.

uruguay03Restaurante Drugstore

uruguay04A “porta” da cidade ainda preservada

Conhecemos a famosa Calle de Los Suspiros. Possui casas lindas e típicas e foi local onde rodaram filmes. Quanto ao nome, bem, é dito que ficou conhecida porque na rua havia uma casa de lenocínio (crime que consiste na exploração da prostituição, ou no estímulo de alguém à sua prática). Isso aí eu li num livro, desse jeito, então nem vou comentar ;o)


Calle de Los Suspiros

Fomos ao Museo Del Periodo Histórico Portugues, que fazia parte de um roteiro da cidade: paga-se um único valor para visitar todos os museus. Vale a pena! Vimos a Casa Lavalleja e depois fomos ao Museu Casa de Nacarello, que é uma típica casa portuguesa preservada. Muito interessante. O seguinte a ser visitado foi o Museo Municipal, também chamado de Casa Del Amirante Brown, construção de 1795. Também fomos ao Archivo Regional (chamado de Casa de Palácios) e me encantei com a preservação de pedaços da Casa Del Virrey, na Calle de Lãs Misiones de Los Tapes. Havia um museu com azulejos antigos, mas estava fechado, bem como o museu indígena. Vistamos o Farol, ao lado das ruínas do convento de San Francisco. Que lugar lindo!


Natureza em Colonia


Ruínas do Convento de San Francisco

Continuamos o passeio pela cidade e visitamos a Plaza Del Theatro e o Museo Del Periodo Histoico Español estava fechado para reformas, infelizmente. Fomos à Feira de Artesanatos, vimos a sede da Prefeitura local e fomos andando (não façam essa loucura, é muito longe) ao Colonia Shopping, pequeno, mas organizado.

Jantamos no ótimo Parrillada El Porton (na avenida General Flores, 333). Com ambiente agradável e comida deliciosa, bebemos um vinho uruguaio maravilhoso. Mas o melhor mesmo ficou para o final: um doce chamado “chaja”, tão bom que repetimos. Não dá para explicar: era uma espécie de bolo muito macio, com uma receita diferente, recheado de doce de leite e com pêssegos. A água está escorrendo da boca só em pensar.


Chaja – maravilhoso!

Voltamos a pé para o hotel e no dia seguinte seguimos para Montevideo de ônibus. Compramos as passagens no dia anterior na rodoviária e fomos com a empresa COT, que possui diversos horários. A viagem foi tranqüila e durou cerca de 2h30. Já na rodoviária de Montevideo, compramos passagens para o aeroporto de Carrasco. Chegamos com antecedência e “almoçamos” no aeroporto, onde comemos empanadas e alfajores. Lá deixamos nossos últimos pesos uruguaios.

Do avião, avistamos o pôr-do-sol e nos despedimos desse país que nos conquistou.

FIM DO RELATO

10 – 2º dia Buenos Aires

segunda-feira, outubro 20th, 2008

Dia 20 de agosto de 2008. Estávamos decididos a voltar antes para o Uruguai. Passamos o dia anterior em Buenos Aires, teríamos mais um dia na cidade e a idéia era voltar mais cedo para aproveitar o final da viagem no país que nos acolheu muito bem. Trocamos as passagens de Buquebus para o dia 21 de manhã, em vez do dia 22. Então no dia 20 apriveitamos o último dia de Buenos Aires.

Acordamos e fomos para Palermo. Primeiro passeio: o Jardim Japonês. É mesmo muito bonito, mas tivemos o azar de pegar um dia nublado e chuvoso. No jardim não havia mais ninguém além de nós e a garoa atrapalhou um bocado, mas pudemos ver as enormes carpas com seus bocões abertos pedindo comida. Eu adoro peixes, tiramos fotos, passeamos, mas logo fomos embora.

Passamos em frente ao Zoológico e fomos ao Museo Evita. O lugar foi uma surpresa positiva: organizado e muito bonito, com fotos e objetos que pertenceram à primeira-dama mais querida do país. Um senhor local parou para conversar com o marido e ficaram um tempão falando sobre Eva Perón e Juan Domingo Perón.

De lá, fomos ao Malba (Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires). Moderno e enorme, o lugar é muito bacana para quem gosta de arte. E lá ficamos, ao lado do Abaporu, de Tarsila do Amaral, admirando a nossa arte exposta no país vizinho.

Passamos pelo palácio Alcorta e fomos parar no Museu Nacional de Arte Decorativa. Lindo. O local abrigava uma exposição com esculturas belíssimas, entre elas Rodin e Camille Claudel. Foi um dos museus mais interessantes que visitamos na cidade. Então fomos conhecer a famosa Flor Metálica, onde todos os famosos de Caras vão para tirar fotos que saem na revista. Nós fomos.

Então, sobre a avenida Alcorta, na passarela, pudemos ver a cidade iluminada no início da noite, o prédio da Faculdade de Direito e a Flor Metálica ao fundo. A passagem para o outro lado da avenida teve como objetivo a chegada ao Museu Nacional de Bellas Artes. Completo, gigantesco, lindo. Passamos horas lá, mas ainda foi pouco. É possível passar dias admirando cada obra, em diferentes áreas do museu. Lá eu vi obras de pintores incríveis: Modigliani, Kandinski, Paul Klee, Picasso, Degas, Monet, Cézanne, Gauguin, Toulouse Lautrec, Manet, Van Gogh, Pissarro e tantos outros. Foi ótimo.

Passamos pelo Buenos Aires Design (onde fica o Hard Rock Café) e pelo Cemitério da Recoleta. Como já era noite, estava fechado, mas mesmo se fosse dia, não entraríamos. Não fazia parte do nosso roteiro visitar um cemitério, por mais famoso que seja (se existem duas coisas que detesto são cemitérios e hospitais).

Naquele dia, jantamos no La Madeleine, um lugar “coma até cair”, com todo o tipo de comida deliciosa (inclusive sem carne, vejam cada achado que fizemos) e com atendimento simpático – o nosso garçom era uruguaio e batemos um longo papo sobre o seu país, enquanto ele anotava, em português, o nome de palavras como garfo, faca e colher. “Preciso atender bem meus clientes brasileiros”. Uma simpatia! Comemos bem e por um preço justo. Adoramos. Voltamos de táxi para o albergue. O dia seguinte seria de mais viagem, de volta ao Uruguai, na última cidade antes de voltarmos ao Brasil.

(Continua…)

9 – 1º dia Buenos Aires

sábado, outubro 18th, 2008

A viagem de ferry boat foi muito boa. Três horas de duração entre as duas capitais – Montevideo, no Uruguai, e Buenos Aires, na Argentina. Quase não conseguimos lugar porque, sem saber, aquela segunda-feira era um feriado na Argentina. Passamos a viagem conversando com um senhor simpático que sentou ao nosso lado, o alemão Rolf Seeler. Enquanto ele falava em espanhol e nós em português, passamos um tempo ótimo contando histórias. Ele disse que como seu nome era muito diferente e há anos ele morava na América Latina, as pessoas o chamavam de Rodolf. Então assim ficou.

Rolf é escritor de livros de viagem. Foi jornalista, trabalhou em uma multinacional e resolveu largar tudo para viajar. Cada viagem que esse homem já fez que não dá para acreditar! Morou em navio de carga e deu a volta ao mundo em três meses, morou nas Ilhas Fiji (elas existem), conhece o Brasil melhor do que muitos de nós e morava, até o momento que conversamos, em Punta Del Este, mas fazia viagens diversas pela América do Sul para escrever e revisar seus livros. “Um dia eu quero ser como o senhor”, eu brinquei, mas falando a verdade.

Chegamos em Buenos Aires e pegamos um táxi para o Che Lagarto Hostel, o albergue que escolhemos. Como em Buenos Aires a hospedagem é bem cara, optamos por algo diferente e mais em conta. O albergue pertence a uma rede e é simpático, com funcionários legais e um ambiente bom. Ficamos em um quarto privativo com banheiro e TV.
Deixamos a malinha e a mochilona e fomos passear.

Vale ressaltar que não me estenderei nas descrições de Buenos Aires porque a cidade é bastante conhecida dos brasileiros e há quem a conheça bem melhor do que eu pela internet afora. Mas darei meu relato e dicas. A começar pelo choque que tivemos logo ao chegar na cidade. O lugar é bonito? É. A cidade é interessante? Sim. Gostamos de lá? Gostamos. Voltaríamos? Não sei. O fato é que depois de sair do Uruguai, foi um pouco decepcionante chegar a uma cidade tão grande, com trânsito e, em geral, pessoas educadas, mas não simpáticas, percebem a diferença? Aquele calor humano e a empatia foram embora. Desculpem-me os amantes de Buenos Aires – e eu não generalizo porque ao contrário do Uruguai, não conhecemos a Argentina. Conhecemos apenas a sua capital e sabemos que isso pode não refletir o povo como um todo – a verdade é que preferimos qualquer cidade do Uruguai a Buenos Aires. Sem críticas, apenas uma observação, ok?

Nosso primeiro passeio foi andar até Puerto Madero, o famoso porto onde estão localizados restaurantes badalados. Fizemos nossa única refeição já eram mais de 18h00 no Il Gatto, um restaurante com preço justo, ambiente agradável e comida deliciosa, além da bela vista das janelas de vidro. Voltamos para o albergue e como combinado, o pessoal do El Viejo Almacen passou para nos buscar. Fomos a um show de tango.

Eu esperava mais, muito mais. O tradicional show de tango, oh, na verdade é um show muito bonito, sim, mas com tudo: música, dança, mais música, mais música, mais sei lá o quê e o que queremos ver – os dançarinos de tango – aparecem vez ou outra, perdidos num show grandioso. O lugar era acolhedor, serviu um delicioso vinho argentino, mas ficou a desejar, ainda mais se considerarmos o preço caríssimo do ingresso. Sem o jantar, vale dizer, porque caso contrário seria assalto à mão armada. Mas vale a pena conhecer, afinal, o tango é tão famoso por lá…

No dia seguinte, 19 de agosto, fomos primeiro ao Caminito, aquele bairro das casinhas coloridas, uma periferia alegre e intimidadora. Não fizemos city tour, mas pode ser uma boa opção na cidade. Resolvemos andar durante quase todo o tempo e aqui vale uma dica: não compre nada no Caminito, ali é lugar de turista, eles enfiam a faca no preço. Visitamos o museu do Boca Juniors e, bom, sem comentários. Nem marido, que quis tanto entrar, gostou. Não quis nem entrar no Estadio La Bombonera, que vimos apenas através de um vidro, o que foi suficiente.

De lá andamos muito, mas muito mesmo, algumas horas. E fomos parando pelo caminho, para conhecer bairros e monumentos. Vimos a replica da Casa Amarilla, do Almirante Brown, o parque Lezama, a Igreja Ortodoxa Russa e passamos por vários museus que estavam em reforma. Buenos Aires, aliás, parecia um grande canteiro de obras. O Museu de Arte Moderna, um prédio muito bonito, estava fechado, bem como o Museu do Cinema, próximo a ele e cujo prédio estava caindo aos pedaços. O Museu Penitenciário estava fechado porque não abre em todos os dias da semana e a igreja ao lado, a Parroquia San Pedro Gonzalez Telmo, belíssima por fora, estava em reforma.

Andamos mais um pouco e chegamos à simpática Plaza Dorrego e de lá pegamos um táxi para o Restaurante Bodhi, na rua Chile, 1763. A dica do restaurante vegetariano foi da amiga Luciana e fomos conferir o menu. Uma delícia! Tivemos uma ótima refeição sem carne na cidade que adora um bife! E continuamos a caminhada para o Centro – Monserrat, cuja primeira parada foi na Plaza de Los Congresos.

Conhecemos, mais à frente, o Palazio Carlos Gardel, onde funciona o Museo Del Tango, um dos lugares bacanas que vimos na cidade. Bem organizado, muito bonito e onde acontecem freqüentes apresentações de tango. Gostamos muito. Logo mais fomos ao Café Tortoni, dica do nosso amigo Rolf e ponto que merece uma visita. O prédio é magnífico e o chocolate quente uma delícia – eu pedi o normal com churros e marido um chocolate espesso.

Passamos pela Calle Florida, o famoso e lotado calçadão para compras, onde não compramos nada porque preços melhores podem ser encontrados em outras regiões e chegamos à Plaza de Mayo, com os prédios mais conhecidos da cidade. Vimos a bela Catedral Metropolitana, o Cabildo, a Sede do Governo de Buenos Aires, o Banco de La Nacion, o Palacio Del Congreso e a Casa Rosada, que mais parece ter a cor de terra desbotada e estava em reforma.

Nas redondezas, conhecemos a Parroquia San Ignácio de Loyola, que angaria fundos para uma restauração e conhecemos o Mercado de Las Luces, um lugar muito bonito e que faz parte da história do povo portenho. Continuamos caminhando e chegamos ao Museu Franciscano, ao lado da Capilla San Roque (fechada) e a bonita Parroquia San Francisco. O “complexo” fica em frente à Farmácia La Estrella, que funciona no local desde 1834. Aqui estamos entre as ruas Defensa e Alsina.

Voltamos à Plaza de Mayo e visitamos o Museo da Casa de Gobierno, sem comparação com o equivalente da capital vizinha. O espaço era menor, apesar de organizado, mas eram poucos os objetos de interesse. Vale pela história e pelo ingresso gratuito. E então vimos, de um outro ângulo, a Casa Rosada, na frente com seu monumento a Cristóvão Colombo. Caminhamos rumo ao Obelisco, passamos pela Secretaria de Comunicação (um prédio enorme e bonito) e paramos no Centro Cultural Jorge Luis Borges, lindo e iluminado à noite. A caminhada continuou e vimos o Teatro Colón e adivinhem? Está em reforma. Tão lindo por fora, mas inacessível do lado de dentro até, pelo menos, o final do próximo ano, segundo o segurança da porta.

A avenida 9 de Julio é muito bonita depois que o sol vai embora. Aquelas luzes, o obelisco e a visão daqueles prédios antigos e conservados é bonita, mas nada que seja tão diferente de São Paulo.

O lugar que eu mais gostei em toda a cidade, porém, veio a ser o último visitado no primeiro dia em Buenos Aires. Por indicação do amigo Ivo e reforço de Rolf para que não deixássemos de ir, fomos à livraria El Ateneo, que funciona em um antigo teatro. Imaginem duas das coisas que eu mais gosto na vida? Livros e teatro, juntos. O lugar era magnífico, passamos um bom tempo lá, trouxe para casa um exemplar em espanhol mesmo sem saber o idioma (eu posso começar, né) e a verdade é que não queria ir embora dali.

Jantamos próximo à livraria, no La Madeleine, onde encontramos vários pratos vegetarianos. Depois de comer bem, pegamos um táxi e fomos para o hotel descansar para o segundo dia corrido na capital da Argentina.

(Continua…)

Diário de uma mulher

terça-feira, outubro 14th, 2008

Uma praia linda, mar azul, areia e um calor de mais de 30 graus. Acordo. A praia foi embora, mas o calor continua. Deito novamente para tentar aproveitar os últimos 10 minutos antes de o despertador tocar. Dessa vez, sonho que minha gata é uma terrorista internacional. Levanto da cama atordoada – acho que estou ficando louca. Escovo os dentes e juro que posso ouvir um caminhão fazendo propaganda de uma escola (e não é de samba). A gata está escondida. Aquela calça cinza-claro não cai bem e resolvo colocar outra, mas todas as seguintes também não podem ser usadas. Decido que daquele momento em diante só quero usar calças pretas e só uma mulher poderia entender meu ponto de vista. Jeans também pode ser uma boa saída. Para ir trabalhar, lembro novamente da praia do sonho. Passo protetor no rosto, nos braços e ainda não posso esquecer do repelente nas pernas. Ao sair na rua, tenho a sensação que entrei no forno. Eu sou o bolo e logo serei assada. O calor aumenta, o suor escorre, é um nojo tão grande que não sei como alguém pode gostar disso. O sol brilha, é lindo, mas seria realmente bom se o sol esquentasse uma temperatura de pelo menos 10 graus a menos. Hora de almoço e já chega aos 35, a sandália escorrega do pé e fico imunda de terra. No caminho há terra, quando chove é barro. Durante todo o dia eu penso em tudo o que preciso fazer, mas não posso, porque estou no trabalho – é irônica essa vida. Chego em casa e tomo banho gelado, justo eu que nunca gostei de água fria. Assisto a um filme, mas não esqueço que preciso entregar um trabalho do curso que eu nem comecei e tenho pilhas de tarefas para serem feitas. Janta eu não faço nem que me paguem, eu pensei. Mesmo após a crise da calça e sem coragem de encarar a balança, escondida embaixo da pia do banheiro, eu preparo brigadeiro para comer de colher. Encho a pança com três quartos da lata. Como tudo de uma só vez, mas não é 100 por cento, é apenas três quartos, para diminuir a culpa. Passo mal e não consigo dormir. Tento pensar em algo bom, para adormecer, porque a madrugada chega e eu não posso esticar na cama no dia seguinte. Um amigo diz que a ditadura do horário comercial é impiedosa e eu me recordo que preciso descansar porque estou com olheiras. Quando sonho com a praia, o despertador toca. Não tão mal assim, pelo menos pulei a parte da gata terrorista.

Fernanda.

8 – Cabo Polônio

terça-feira, outubro 14th, 2008

(Voltamos com a programação normal da viagem. Calor de quase 37 graus na cabeça destrói neurônios, viu? Mas vamos voltar no tempo para um clima agradável lá no Uruguai. Beijinhos!)

No segundo dia em Punta Del este, decidimos passear um pouco de carro sentido Chuí. A estrada é boa e são cerca de 120 km até o nosso destino final: Cabo Polonio. Basta seguir a ruta 9 até Rocha e entrar pela estrada do litoral como se fosse pra La Paloma. Quando estávamos quase lá, achamos que nos perdemos. Paramos em uma rua próxima à rodovia e um senhor, que estava no gramado em frente à casa, mostrou o caminho com um sorriso no rosto e uma educação que não consigo esquecer. Logo à frente, já na estrada, encontramos uma mulher com uma criança pedindo carona. Nunca fizemos isso, mas naquele momento decidimos retribuir a gentileza uruguaia e valeu a decisão.

Conhecemos, com a carona, Jimena Serrana e sua filha Güiday, que segundo Jimena, significa luz do luar em guarani. Elas iam para o mesmo destino que nós e enquanto as ajudamos, elas nos ajudaram. Jimena foi como guia turística, mostrando e falando sobre tudo no caminho e quando chegamos a Cabo Polônio, pegamos o mesmo carro até o povoado. É preciso deixar o carro estacionado (e não há nenhum perigo quanto a isso) porque só os 4X4 fazem o trajeto. O percurso dura por volta de 30 minutos e fomos conversando com nossas novas amigas. Foi um ótimo papo, nos entendemos como se estivéssemos falando a mesma língua.

out08_cabopolonio_meninasJimena, Güiday e eu

Chegando lá, quem nos levou combinou um horário para nos buscar. É sempre assim que funciona e marcamos para dali a pouco mais de uma hora. No lugar, não há muito que se fazer, apenas contemplar. E a verdade é que somente contemplar aquele lugar é maravilhoso.

out08_cabopolonio_povoadoCabo Polonio

Jimena nos mostrou o povoado e entrou para seu curso – ela quer ser guia turística e com certeza vai ser ótima. Depois da despedida, resolvemos conhecer o farol e lá de cima pudemos avistar os primeiros leões marinhos. Pequenos pontos na pedra, todos juntinhos, que eu precisei aumentar com o “zoom” da câmera para ver melhor. Tão lindo, tão lindo, tão lindo que é só isso mesmo o que eu posso dizer. Tão lindo.

out08_cabopolonio_leoesLeões marinhos, juntinhos, tomando sol

As casas do vilarejo são peculiares também. Vimos uma casa cujo vidro da janela era um vidro da frente de um carro e uma outra que tinha uma pia do lado de fora e um telhado coberto por grama, como um jardim.
Descemos do farol e fomos mais perto das pedras onde estavam os animais. Há um limite para nós, humanos, de forma a preservar os bichanos na tranqüilidade deles. Chegamos próximo à cerca e dali pudemos ver os leões tomando sol. Para quem gosta de animais e natureza, é incrível chegar a um lugar como esse, em que os leões marinhos vivem sem medo de nós, em que podemos observar como é a natureza de verdade. Para mim, foi a mais bela vista que eu tive na viagem inteira. Cabo Polônio não é um lugar comum – é exótico e por isso mesmo é incrível. Para aqueles que estiverem em Punta Del Este com um dia livre, eu sugiro uma visitinha a Cabo Polonio.

out08_cabopolonio_ferEu, feliz, feliz, feliz… e os leões no fundo

Quando percebemos, uma hora havia se passado e tínhamos que ir embora. Ainda deu tempo de parar em uma das barraquinhas “hippies” do local e conversar com um uruguaio que faz tocas e cachecóis para vender. Como há ovelhas e épocas de calor, elas são tosadas e a lã é usada para a fabricação dessas peças. Tudo natural. “Não machuca as ovelhas?”, eu quis saber. “É como cortar o cabelo”, brincou a esposa do homem que nos atendia. E então trouxe para casa um cachecol marrom lindo e rústico.

Voltamos com mais algumas pessoas no 4X4 e de lá seguimos para La Pedrera. A idéia era só conhecer e seguir para La Paloma, uma cidade bem recomendada. Andamos um trecho até que… o que houve com o carro? Não anda. Como assim, não anda? Atolou? Ai ai ai ai ai… Atolou!

Pois é, o carro atolou de bico na areia. Ela não estava lá, andávamos pela terra até que surgiu a areia e como num filme de comédia, lá estávamos nós dois, sozinhos em uma minúscula cidade praiana vazia (porque estava frio) e sem saber o que fazer. Procuramos galhos, madeira, tudo para ajudar, buscamos socorro nas casas e não havia ninguém e então algumas crianças apareceram e tentamos manter uma conversa para que elas entendessem a situação.

Os pais da criançada estavam passeando, elas também não eram de lá e nisso passamos um tempão tentando ligar para a locadora de veículos, sem sucesso ou procurar uma pessoa. Chegou um carro com mais três ajudantes, mas eram argentinos e também não conheciam ninguém na redondeza. Saíram para buscar ajuda, resolvemos trancar o carro e sair a pé, até encontrar alguém. As crianças se lembraram de um homem que conheciam, fomos até a sua casa, mas ele não sabia como ajudar e então foi conosco até a casa de outro conhecido dele, que tinha um Land Rover 1949. E então quando retornamos, encontramos novamente os argentinos e todos juntos vimos o jipe desatolar o nosso carro alugado, depois de umas três horas do início da aventura.

O episódio só nos mostrou, mais uma vez, como o povo local é bacana. Nenhuma das pessoas que nos encontrou foi embora. Todos tentaram ajudar de alguma forma, inclusive as crianças. Quando o carro desatolou, todos bateram palmas, foi muito engraçado e parecia, de fato, um filme. Agradecemos um por um, tiramos fotos e seguimos nossa viagem.

Quando chegamos a La Paloma, bem mais tarde do que o previsto e ainda sem nenhuma refeição na barriga, estava tudo fechado. A cidadezinha é mesmo linda, pequena e aconchegante, com vários restaurantes em volta da rua principal, mas todos fechados àquela hora. Paramos só para conhecer e seguimos para o primeiro posto de gasolina que encontramos, onde tomamos um chocolate quente e um sanduíche de queijo. Esse foi o nosso almoço, às 18h00. Voltamos para Punta e jantamos bem tarde, em La Barra, um sanduíche delicioso (embora caro, como tudo na região) no Flo Café e Bar.

No dia seguinte, 18 de agosto, seguimos de volta a Montevideo e devolvemos o carro. Pegamos um táxi até o porto para pegar o buque. Nossa idéia era ir até Colonia de ônibus e depois pegar o buque, mas como não compramos a passagem on-line e essa foi a única coisa que nos esquecemos de fazer pela internet, só havia passagem direto de Montevideo para o nosso destino. Uma dica de viajante é: compre as passagens online.

Naquele dia, por volta das 12h00, pegamos o barco rumo à Argentina, onde passamos um dia a menos do que o previsto, porque resolvemos voltar para o Uruguai. Acompanhe a nossa aventura…

(Continua)

7 – Punta Del Este

segunda-feira, outubro 6th, 2008

Chegamos a Punta Del Este no início da noite e fomos para o hotel que havíamos reservado pela internet, como quase tudo da viagem. O hotel escolhido foi o Amsterdam, na Calle El Foque, em frente à Playa de Los Ingleses. Considerando os preços abusivos de Punta, o hotel escolhido estava em uma boa média, com preço justo. Os atendentes são simpáticos e falam português, mas mesmo os que não falam, tentam e são gentis. Ofereceram um quarto com vista para o mar por cortesia, já que o hotel estava vazio porque estávamos em fora de temporada. E a visão da janela era muito bonita.

Fomos conhecer La Barra no mesmo dia, que é colada com Punta. O diferencial do lugar é a Ponte Ondulada, uma estrutura que mais parece um tobogã para os carros, em um sobe e desce interessante. Naquele dia jantamos em Punta, no restaurante Virazón. Como quase todos da cidade, o preço é absurdo. Tudo bem, a comida estava uma delícia, mas não vale o que se gasta. O atendimento é mais ou menos e mais uma vez eu repito: a conta é assustadora. Acho que nunca paguei tanto para comer em um lugar e a comida nem era tão magnífica assim. Só o musse de doce de leite. Esse era dos deuses, então valeu por ele.

set08_uruguay27_puntaonduladaLa Barra – Ponte Ondulada

No dia seguinte, 16 de agosto, fomos conhecer a cidade e a primeira parada foi o Puerto de Nuestra Señora de La Candelária. O lugar é belíssimo. Ficamos muito, muito tempo observando os leões marinhos, os pescadores e o movimento. Tiramos fotos, chegamos perto dos leões que esperavam comida (os pescadores lhes dão todo o resto do peixe após a limpeza para a venda e os leões, sabidos, aguardam a sua vez).

set08_uruguay26_puntaportoNo porto com um leão marinho

A primeira decepção veio quando buscamos um passeio para a Isla Gorriti. Não havia. É uma ilha próxima e parece linda, mas os “barqueiros” queriam nos vender um passeio para a Isla de Lobos. Os próprios funcionários do hotel já tinham nos alertado que não vale a pena, porque o passeio é caríssimo e lobos, afinal, podem ser vistos ali no porto mesmo. O preço do tal passeio era de 50 dólares (isso mesmo, tudo lá é em dólar) por pessoa. Como? Por duas horas sem poder nem sair do barco para conhecer a ilha? Sem chance. Infelizmente também ficamos sem o passeio para a Isla Gorriti e resolvemos passear pela cidade.

A verdade é que após um dia por ali eu já estava irritada. Não gosto muito dessa coisa de “glamour” porque prefiro a natureza. O belo me agrada, não o nojento, e este último eu acabei vendo bastante por lá.

A cidade é bonita, mas não tem nada de tão especial assim. É apenas bonita. Um dia por lá é suficiente. Tudo bem que estávamos fora de temporada e dizem que no verão o lugar fica cheio de gente. Mas se a intenção é estar no mesmo lugar com o mesmo tipo de gente e ainda por cima lotado, eu passo a vez, obrigada.

Como não tínhamos planejado nada para aquele dia, resolvemos conhecer Punta Del Este. Primeiro fomos ao Faro, o farol que está localizado na Calle 2 de Febrero. Bonito, logo em frente à Parroquia de Nuestra Señora de La Candelária. Simpática por fora, porque estava fechada e foi só o que pudemos ver.

set08_uruguay30_puntafaroO farol

set08_uruguay29_puntaigrejaA igreja

De lá, pegamos o carro e seguimos para a Playa Brava, a famosa praia com a escultura da mão que emerge da areia do artista chileno Mario Irrazábal. É uma escultura interessante, apesar de estar com vários “dedos” pichados. Saímos em direção à Feira Artesanal, entre as Calles El Corral e El Mesana. Compramos um leão marinho com o filhote, minúsculos, apenas como recordação. Um trabalho bem feito de um uruguaio local com quem conversamos. E de lá paramos para almoçar no restaurante Napoleon, em frente ao porto. O preço era caro, o que não era nenhuma novidade, mas o prato de paella para duas pessoas estava maravilhoso.

set08_uruguay28_puntamanoPlaya Brava – Escultura de Mario Irrazábal

Ficamos mais um tempo no porto e procuramos algo mais para fazer. Encontramos no guia o Museo Del Mar, que fica em La Barra, a cerca de um quilômetro da ponte, de onde já se vê placas para chegar até lá. Foi uma grata surpresa, porque o lugar é grande e muito bem conservado. Gostamos muito! Voltamos à Punta e passeamos de carro. Paramos na frente do Conrad Casino, o cassino mais famoso da cidade. E entramos, claro. Gastamos a módica quantia de dois dólares, o que era equivalente a duas fichas. Elas acabaram em menos de cinco minutos, mas valeu pela rápida diversão.

O jantar aconteceu no Punta Del Este Shopping Center, pequeno e meio sem graça para a frescura da cidade. Comemos no famoso Il Mondo Della Pizza pela segunda vez no país e de sobremesa pedimos o fantástico “rogel de dulce de leche”. É algo muito, muito, muito bom. Uma torre de bolo quase alfajor gigante com camadas de doce de leite. Pouco calórico, imaginem, mas uma coisa boa demais. E foi com ele que o dia acabou. Mas nem imaginávamos como seria o dia seguinte – cheio de aventuras, com direito a carro atolado e a conhecer a cidade mais bacana da viagem.

(Continua…)

6 – Punta Ballena

sábado, outubro 4th, 2008

(Oi, amigos! Tá muito chato acompanhar a viagem? Sempre que der eu trago novidades em um ou outro post sem ser sobre o Uruguai, certo? Mas com a correria das eleições – repórter trabalha nesse dia, né, gente – não vai dar para escrever muito agora. Fiquem com mais uma parte da viagem, superespecial para mim e marido. E os recados continuam sendo respondidos. Um abraço apertado em cada um de vocês).

Quase em Punta Del Este, apenas a cerca de 16 km antes do destino, paramos em Punta Ballena. Apesar de ser um lindo local, ele é conhecido exclusivamente pela presença do Museo-Taller de Casapueblo, do artista uruguaio Carlos Paez Vilaró. O lugar é tudo: hotel, casa do artista, ateliê, museu e lojinha dos seus produtos. Uma construção enorme, branca, que parece mais um palácio à beira-mar.

Entramos e fomos para a sala de vídeo, que mostra a história de Vilaró contada por ele mesmo. De lá, seguimos para o museu, onde pudemos ver ao vivo as belas obras desse importante artista uruguaio. E muitos gatos, do jeitinho que gostamos. Cada quadro lindo que não dá nem para explicar… e conhecer a história de perto é muito mais interessante.

Vilaró nasceu em Montevideo em 1923 e em novembro completa 86 anos. Morou, durante a juventude, em Buenos Aires. Em 1958 começou a construção da Casapueblo. Ele mesmo quis construir a casa, com as próprias mãos, e sua obra demorou mais de 30 anos para ficar pronta. O resultado está em uma construção estonteante, com uma bela vista para o mar, lugar que faz o pôr-do-sol ficar ainda mais bonito.

Andamos pelo prédio, vimos as obras, olhamos os quadros à venda e marido quis nos presentear, pelos nossos aniversários, com uma pintura. Eu pedi, na cara dura, para a atendente: “queria um autógrafo do artista” e ela disse que era só buscar a obra no dia seguinte. Então insisti: “mas eu queria uma foto com ele também”. A moça não resistiu ao apelo da brasileira, entrou em contato com Vilaró e eu a ouvi ao telefone “Sim, senhor Carlos, como não? Vamos agora mesmo” ou qualquer coisa parecida com isso em espanhol. O “como no?” eu tenho certeza que ela disse. Todos eles dizem.

Então ela nos disse que iríamos ao ateliê dele. As pessoas vão ali, conhecem o museu e eu iria conhecer o artista? Era demais para meu pobre coraçãozinho. Ele bateu forte, forte, e a cada batida mais forte eu subia um degrau. Subia, subia, e passamos pela sala. Ali estava a sala do artista! Uma sala linda, não vou me esquecer, com um sofá branco feito com o mesmo cimento com que ele fez a própria casa, e as almofadas coloridas em cima, um tapete colorido, tudo tão simples que nem eu, nem você e nenhum de nós poderia imaginar. Branco, colorido e simples. Tão lindo. E os livros? Por todos os cantos, em todas as paredes. Tão lindo que oh, deu vontade de chorar.

Então subimos mais e mais. O coração não batia, ele gritava. Fica bobo, não, caro leitor. Se teu sonho é conhecer os participantes do BBB, o meu é conhecer os artistas que eu mais gosto. Os pintores e escritores em especial. E lá estava eu na casa de um que é os dois juntos num só e muito mais. Chegamos a um espaço enorme e lindo, com uma mesa grande com telas em cima, cavaletes, tintas por todos os lados, quadros pendurados e mais livros. Passamos por um espaço para chegar à outra sala parecida. De um quartinho menor ele saiu, com casaco de frio, sorriso no rosto e uma alegria contagiante.

Deu boa tarde, perguntou nosso nome, cumprimentou. Deu beijinho. Ele contou que estava revisando mais um de seus livros, sobre o Tahiti. Ele morou lá um tempo. E eu disse que estava emocionada de estar ali, marido estava tão bobo quanto eu, que somos os dois amantes da arte e nos damos bem até nisso, aí Vilaró viu o nosso quadro de gatinho nas mãos e nos disse que aquela que íamos levar para casa era a Luna, uma de suas gatas. “Pinto muito gatos porque eu tenho gatos”. A Luna e o Sol moram em Punta Ballena, mas ele contou, rindo, que tem sete gatos na sua casa em Buenos Aires. “Um com nome de cada dia da semana”. Rimos todos.

O artista pegou a caneta e já sabendo nosso nome, repetiu e confirmamos. Escreveu “A Fernanda y Mauro, con mi cariño”. Assinou o nome e desenhou um peixinho embaixo. Enquanto assinava, contou que naquele dia tinha ido ao mercado para comprar comida para os gatos, assim, nessa simplicidade e doçura de quem conversa com os amigos. E rimos do jeito fofo dele falar sobre os gatos e dissemos que temos dois também, Polly e Teddy, resgatados das ruas. Ele também adota. Todos adotados. Contou sobre a Briggite Bardot, que certa vez passeava pela rua, viu um monte de gatinhos que iam morrer e pegou todos. Distribuiu para pessoas que adotaram. Coisa linda de viver, né? Gente famosa de bem.

Tiramos fotos. Tirei dele assinando, fiz um vídeo curto só para não esquecer mais a voz do artista, a moça da loja que subiu conosco ao ateliê bateu duas fotos nossas e pedi ao marido uma foto minha com ele. Estava emocionada e com os olhos cheios de água. Encostei a cabeça no ombro dele, que me abraçou como um avô faz. Perguntou de onde éramos, falamos Brasil, ele contou dos seus amigos brasileiros (de fato, Vilaró foi amigo de grandes nomes e ainda é amigo de outros tantos), do tempo que passou no nosso país. Agradecemos muito por ter nos atendido e ele disse que foi um prazer. Demos beijinhos e no fim, eu lembro bem, fiz um tchauzinho com a mão e ele respondeu “Adiós, Fernanda”. Não esqueceu meu nome, com a educação e gentileza de um grande artista, humano, educado e simpático como seu povo.

Desci as escadas tremendo. Tão feliz como uma criança que ganha brinquedo. Olhei para o marido, que estava igual. Ainda descemos no terraço, onde pudemos ver o sol se pondo. Uma alegria no cenário perfeito. Um momento que eu nunca mais vou esquecer na minha vida.

(Continua…)

5 – Piriápolis

quinta-feira, outubro 2nd, 2008

(Oba, mais um dia de viagem! Os recadinhos nos posts anteriores foram respondidos na própria caixa de comentários. Adoro conversar com vocês, mantém minha sanidade – se eu a tenho, mas me deixem na ilusão. E possuo bola de cristal, então você pode comentar no primeiro post do blog que eu vou ler, saber, amar e responder. Vamos à viagem. Saímos de Montevideo e fomos rumo a Punta Del Este, mas paramos pelo caminho. Você nos acompanha?)

O terceiro dia era de viagem com destino a Punta Del Este, que fica a cerca de 140 km de Montevideo. A verdade é que não imaginávamos como poderia ser bacana e especial fazer algumas paradas antes de chegarmos. A primeira delas foi em Piriápolis, após 100 km de estrada boa e tranqüila.

Na Rambla de Los Argentinos, na entrada da cidadezinha, encontramos um posto de informações. Em todo o país é possível encontrar um posto desses, o que facilita a viagem. Pegamos um mapa e tivemos a sorte de conhecer mais uma pessoa simpática, que nos mostrou vários locais que poderíamos conhecer. Naquele momento tivemos vontade de dormir ali mesmo. Então eu recomendo: quem passar por Piriápolis, reserve pelo menos algumas horas do dia para apreciar o local. Com o ponteiro do relógio correndo, escolhemos alguns locais e voltamos a ser turistas.

Piriápolis é uma cidade muito agradável, pequena e interessante, a começar por sua história. O Município foi fundado por Francisco Piria, que nasceu em Montevideo em 1847 em uma família rica. Trabalhou em várias áreas (foi até mesmo escritor) e ganhou muito dinheiro, principalmente loteando terras. Mas o seu desejo maior era construir uma cidade. Assim o fez, e o nome não poderia ser outro. Quem sabe, um dia, eu ganho uma Fernandalândia?

Primeiro subimos no Cerro Santo Antonio, que é o morro mais conhecido da cidade. Pode-se subir de teleférico ou carro e optamos pelo segundo método pela rapidez. O resultado é o mesmo: lá de cima vê-se toda a cidade e o lindo mar. No topo há uma lojinha e uma pequena capela com a imagem do santo que dá nome ao local.

Na mesma linha imaginária da capela, ainda no morro, está situada a Ermita Virgen Rosa Mística, que é a imagem de Nossa Senhora sobre a pedra fundamental da cidade. Não é lindo? Paramos para almoçar e, pela dica que recebemos da simpática moça do posto de informações, procuramos algo próximo à Punta Fria, a região com restaurantes mais aconchegantes e gostosos. Escolhemos a “Trattoria da Piero” e pedimos dois pratos com o peixe típico da região, recém-pescado e delicioso: a brótola. O almoço estava ótimo.

Não poderíamos ir embora sem antes conhecer o trabalho do SOS Rescate Marino, localizado logo após a Playa San Francisco, em direção à Punta Colorada. Fomos recebidos por um rapaz simpático que nos explicou que o horário de visita seria bem mais tarde. Não seria possível… fiquei com cara de desolada porque, para mim, aquele era o lugar mais interessante da cidade. “Vou abrir uma exceção para vocês”, ele disse. E nos levou para conhecer onde os animais são recuperados (contaminação com óleo, machucados pelos barcos, doentes) antes de serem soltos novamente na natureza.

Foi incrível. Conheci leões marinhos lindos, um deles inclusive gostava de receber carinho – ainda bebê, era mais receptivo ao contato humano. Havia também um elefante marinho e muitos, muitos pingüins. Peguei um bem manso e fiquei, durante longos minutos, observando o comportamento dos animais e o carinho dos tratadores. A equipe busca patrocínio de empresas ou do governo, porque vive de doações. Um trabalho bacanérrimo e que merece ser visitado.

E de lá seguimos para Punta Del Este, mas ainda teríamos uma parada pelo caminho… uma parada que se tornou a mais especial da nossa viagem.

(Continua…)