Archive for junho, 2009

Acabooou… A-ca-bou!

sexta-feira, junho 19th, 2009

Muito bem, o assunto já foi tratado pelos grandes veículos de comunicação, eu já estive irritada a ponto de não conseguir escrever, mas acho que tenho de voltar a falar sobre o tema no meu blog. Agora o diploma de jornalismo não vale mais nada, minha gente. Sua obrigatoriedade não é mais válida. Já falei sobre isso aqui neste link, mas há mais para acrescentar.

Primeiro, exigir um diploma não significa tirar a liberdade de expressão de ninguém. De onde tiraram essa ideia absurda? Qualquer pessoa pode escrever artigos e mandar para jornais, não existe nada que impeça isso.

Segundo, a profissão de jornalismo era regulamentada, o que exigia o cumprimento de obrigações como piso salarial e demais benefícios para o profissional. E agora? E agora eu não sei, camaradas. Não existe mais uma profissão regulamentada. E, claro, qualquer um pode ser jornalista.

Terceiro, se qualquer um pode ser jornalista, vocês acham MESMO que a qualidade da informação está assegurada? Jornalismo é profissão séria, nós lidamos com informação, somos formadores de opinião, o quarto poder. Que poder?

Quarto, é claro que faculdade não faz um bom profissional, mas quem disse que faculdade alguma forma um bom profissional? Nem medicina garante a formação de bons médicos! Um bom profissional, em qualquer área, precisa de muito mais: de experiência, de ética, de dedicação. Mas, convenhamos, faculdade é o mínimo, é a base. Em jornalismo não aprendemos somente a escrever (e nem aprendemos a escrever, porque, na boa, ou você nasce pra isso ou não nasce), aprendemos a postura, a ética, as regras para a profissão.

Quinto, e muito sinceramente, como diz minha amiga Cláudia, jornalismo é sacerdócio. Porque antes dessa ação ridícula do STF, a profissão já estava mal remunerada. Você trabalha muito (MUITO com caixa alta, povo) e ganha POUCO (bota pouco nisso), sendo que a responsabilidade é imensa. Agora que a profissão nem é mais regulamentada, que não existe uma base, um mínimo, o que vamos exigir? E, mais para frente, o que vocês, população, vão exigir de um profissional que nem profissional é?

Só para finalizar, eu acho um bocado interessante que os ministros, no fundo, no fundo, não queiram mesmo que a informação tenha qualidade. Só falta tirarem diploma de professor agora.

Entendam como quiserem.

Hoje, infelizmente, é sem alegria.
Fernanda.

PS: Para quem não sabe do que estou falando, abaixo texto da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas). Vale ler também porque a explicação deles é beeeeem melhor do que a minha – que eu admito, é totalmente emocional.

Perplexos e indignados, os jornalistas brasileiros enfrentam neste momento uma das piores situações da história da profissão no Brasil. Contrariando todas as expectativas da categoria e a opinião de grande parte da sociedade, o Supremo Tribunal Federal (STF), por maioria, acatou, nesta quarta-feira (17/6), o voto do ministro Gilmar Mendes considerando inconstitucional o inciso V do art. 4º do Decreto-Lei 972 de 1969 que fixava a exigência do diploma de curso superior para o exercício da profissão de jornalista. Outros sete ministros acompanharam o voto do relator. Perde a categoria dos jornalistas e perdem também os 180 milhões de brasileiros, que não podem prescindir da informação de qualidade para o exercício de sua cidadania.

A decisão é um retrocesso institucional e acentua um vergonhoso atrelamento das recentes posições do STF aos interesses da elite brasileira e, neste caso em especial, ao baronato que controla os meios de comunicação do país. A sanha desregulamentadora que tem pontuado as manifestações dos ministros da mais alta corte do país consolida o cenário dos sonhos das empresas de mídia e ameaça as bases da própria democracia brasileira.

Ao contrário do que querem fazer crer, a desregulamentação total das atividades de imprensa no Brasil não atende aos princípios da liberdade de expressão e de imprensa consignados na Constituição brasileira nem aos interesses da sociedade. A desregulamentação da profissão de jornalista é, na verdade, uma ameaça a esses princípios e, inequivocamente, uma ameaça a outras profissões regulamentadas que poderão passar pelo mesmo ataque, agora perpetrado contra os jornalistas.

O voto do STF humilha a memória de gerações de jornalistas profissionais e, irresponsavelmente, revoga uma conquista social de mais de 40 anos. Em sua lamentável manifestação, Gilmar Mendes defende transferir exclusivamente aos patrões a condição de definir critérios de acesso à profissão. Desrespeitosamente, joga por terra a tradição ocidental que consolidou a formação de profissionais que prestam relevantes serviços sociais por meio de um curso superior.

O presidente-relator e os demais magistrados, de modo geral, demonstraram não ter conhecimento suficiente para tomar decisão de tamanha repercussão social. Sem saber o que é o jornalismo, mais uma vez – como fizeram no julgamento da Lei de Imprensa – confundiram liberdade de expressão e de imprensa e direito de opinião com o exercício de uma atividade profissional especializada, que exige sólidos conhecimentos teóricos e técnicos, além de formação humana e ética.

Para o bem do jornalismo e da democracia, vamos reagir a mais este golpe!

Diretoria da Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ

Corpo de Bombeiros

terça-feira, junho 9th, 2009

Uma coisa que eu preciso contar para você, leitor bacana que entra aqui, é que para ser jornalista é preciso gostar muito da profissão, em primeiro lugar. Não, gostar, não… amar! Porque a porcentagem de jornalistas que ganham realmente bem no país é tão ridícula que é meio difícil que eu ou você estejamos nesse meio. De modo geral, o jornalista que rala mesmo, nas capitais ou nas cidades do litoral e interior, ganha pouco. Não, não é só “pouco”. BEM pouco. Os pisos salariais dos sindicatos não mentem. E você trabalha nos feriados, faz escalas de plantão aos finais de semana e etcétera.

Mas é bom, muito bom, quando você ama e descobre o que gosta de fazer. Eu, por exemplo, não sou sensacionalista. Sou o oposto disso. Detesto reportagens que exploram mortes e confesso: nem chego a ler certas matérias. Telejornal eu não assisto há algum tempo. Óbvio que eu sou antenada, que eu sei o que está acontecendo, faz parte da profissão. Mas não me alimento de desgraças. Eu faço uma oração silenciosa e rápida às vítimas de qualquer tragédia e parto pra frente. Deixo o texto lá atrás, sem ler.

Gosto mesmo de escrever para informar e para entreter. Os assuntos são dos mais variados, desde trânsito, que eu adoro, até saúde, que eu acho muito importante. No sábado saiu uma matéria especial minha no jornal sobre o trabalho dos Bombeiros. Foi uma delícia de fazer. A pauta foi minha, a entrevista também, depois veio o texto. Esse pessoal merece mesmo o nosso respeito, viu. O trabalho do Corpo de Bombeiros é fantástico. E a matéria pode ser lida aqui .

Alegrias,
Fernanda.

“Axensorista”

sexta-feira, junho 5th, 2009

Escrevi este conto aos 17 anos, foi meu primeiro conto ou, como dizia um professor da faculdade, uma crônica reflexiva. Foi ele que, após ler, me chamou para o primeiro trabalho freela na mídia impressa. Grande mestre. E então esse conto ou crônica, que já completa 13 anos, tornou-se o símbolo do meu início na literatura, de certa forma. Meu primeiro escrito de gente grande, sabe? Compartilho com vocês e espero que gostem.

Alegrias,
Fernanda.
PS: Nada foi mudado daquela época, apenas o valor em reais para acompanhar o parco aumento do salário mínimo nesses anos.

“Axensorista”

“Ou eu não me chamo Maria”… continuava a senhora a repetir. Eram frases curtas seguidas do mesmo fim, e eu já estava mesmo duvidando de que ela se chamasse Maria. Porque parece impossível que tal criatura consiga realmente realizar os feitos aos quais se referia, por mais insignificantes que parecessem a um ser humano normal, assim como eu, assim como nós todos. Mas ela sonhava, e sonhava alto para sua vida medíocre, baixo para uma outra vida qualquer.

Conheci Maria no ônibus. Aqueles ônibus lotados que se pega para ir para casa e que servem como motivo de um bom cochilo. Sentei no mesmo lugar de sempre e esta senhora sentou-se ao meu lado. “Isso porque essa lata velha está vazia hoje. Fui premiada com uma companhia”. Era mesmo muita emoção, que até fechei os olhos fingindo dormir. Mas Maria, até então por mim desconhecida, começou a falar.

“Pra sinhora vê, nove hora da manhã e eu tô indo lá no lugar da mocinha que num podia ir. E eu que tenho que ir! Eu ainda saio desse emprego ou não me chamo Maria”… Eu não tinha reações, acho que temia que ela me procurasse como confidente cada vez que me encontrasse no ônibus. Mas o fato foi que não importava o que estivesse fazendo, Maria queria falar. E o fazia. Descobri então que era funcionária de limpeza (“a chefe delas, sabe, dona?”) e que a mandavam para diferentes lugares quando alguma outra funcionária faltava, apesar de este não ser o seu serviço. Ela me detalhou como eram suas manhãs e me confessou que às vezes tomava um golinho do café dos “poderosos” – mas quem iria notar? A pobreza era tanta que se sentia uma privilegiada, era a dona dos sacos de lixo que vez ou outra eram roubados por pessoas que ela nem imaginava. “Roubar saco de lixo, dona, vê que coisa!” Não via, mas imaginava.

O seu grande plano na vida era deixar de ser uma boa faxineira e, assim, ser despedida. Afinal, Maria não era boba, ela mesma dizia, e queria ganhar o que lhe era de direito. Depois? O futuro poderia ser brilhante e ela seguir seu grande sonho: Ser a’x'ensorista! Não que ela não fosse grata pelo serviço que tinha, longe disso, mas se ao menos ela ganhasse R$ 800… “Poderia estar rica e ter de tudo, mas salário mínimo, dona, é salário de fome”. Assim, me indagava pela primeira vez durante a conversa, ela queria a opinião de alguém, será que deveria mesmo ser despedida e seguir seu sonho? “Sabe, dona, eu sempre quis ser axensorista, tem uma amiga minha que é, eu quero ser também. Mas pobre não tem que querer nada, tem que comer. Daí eu tenho medo, porque eu vejo que tenho um sonho e não sei se posso seguir”.

“Não sei se posso segui-lo”… Eu nunca pensei em não poder seguir meus sonhos. Eu sempre os tive e nunca imaginei que alguém tivesse medo de seguir, o que na minha vida, é uma das coisas mais preciosas. Talvez porque eu tenha comida na mesa, cama quente, roupa lavada. Eu tenho luxo. Não o luxo das coisas, mas o luxo da esperança. O luxo que muitas pessoas não têm, o luxo de ter um sonho, por menor que seja, e ter esperança com ele. Foi aí então que percebi que sonhar é um presente, e esperar a realização é luxo. Há muito mais o que ser feito além de sonhar. Comer, ter lugar para morar… Direito? Mas quem se importa com isso! Maria se importa e, assim, continuava seu plano. Na verdade, um plano em busca do luxo, do grande luxo de realizar seu sonho.

Era minha vez de descer, mas quem diria, eu me entretia cada vez mais com seu discurso. Cheguei a aconselhá-la, disse somente que deveria fazer aquilo que achava o correto, seguir seu sonho, ser mesmo ascensorista. “Boa sorte, de coração”, dizia eu. “De coração, olha em que ponto cheguei”, pensava sorrindo. Ela se chamava Maria mesmo, e eu sei que vai conseguir.