Dia do Orgulho Heterossexual – que vergonha!

Ai, ai, leiam primeiro, porque é difícil até saber como começar…

A Câmara Municipal de São Paulo aprovou nesta terça-feira (2) o projeto de lei 294/2005, do vereador Carlos Apolinário (DEM), que institui, no município, o Dia do Orgulho Heterossexual. O projeto depende apenas de sanção do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, para virar lei.

(…)

O texto propõe que a data deverá ser comemorada todo terceiro domingo do mês de dezembro. O projeto estabelece que a data passará a constar do calendário oficial do município e afirma que caberá à Prefeitura de São Paulo “conscientizar e estimular a população a resguardar a moral e os bons costumes”.

Autor do projeto, o vereador Carlos Apolinário afirmou que o projeto não é contra a comunidade gay. “Faço um apelo pelo respeito à figura humana dos gays”, afirmou. Apolinário disse que o projeto foi apenas uma forma de se manifestar contra “excessos e privilégios” destinados à comunidade gay. Ele afirmou que um dos privilégios é a realização da Parada LGBT na Avenida Paulista (…)

(texto de matéria do G1, aqui).

Olha, e depois sou eu que tenho criatividade para escrever ficção? E tem coisa mais absurda do que isso? Claro que ainda podemos torcer para o prefeito de São Paulo vetar. Há esperança.

A questão é a seguinte, meu povo e minha pova: Dia do Orgulho Heterossexual, sério? Já falei aqui sobre o Dia do Homem, é quase a mesma coisa. Eu sou heterossexual e nunca precisei de um dia para que as pessoas me respeitassem por isso. Eu me casei com um homem e nunca ninguém me recriminou, nunca apanhei na rua por ser hétero, nunca sofri preconceito porque sou mulher, casada com um homem e pronto. Eu não preciso de um dia para que as pessoas me respeitem por eu ser quem eu sou. Preciso de um Dia da Mulher para lembrar que, sim, as mulheres ainda sofrem preconceito, ganham menos do que os homens nas mesmas funções e muitas sofrem violência doméstica. Como mulher, eu sei o que é precisar que as pessoas lembrem todos os dias que os avanços foram feitos, mas ainda há muito para se fazer, mas como heterossexual eu nunca sofri preconceito, você já?

Aí vem o autor dessa beleza e diz que quer “conscientizar e estimular a população a resguardar a moral e os bons costumes”. Pera lá, meu amigo, e a comunidade LGBT não tem moral e nem bons costumes? E quantos heterossexuais sem moral e sem bom costume que guarda dinheiro na cueca, rouba, mata e agride homossexuais existem por aí? Ética, moral, vergonha na cara e várias outras palavras podem pertencer ou não a héteros ou a gays. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Mas tem mais, meus amigos, tem mais. Ele diz que “o projeto foi apenas uma forma de se manifestar contra “excessos e privilégios” destinados à comunidade gay”. Privilégios de serem discriminados ainda hoje, em pleno 2011? Privilégio de sofrerem violência gratuita? Não é privilégio nenhum garantir à comunidade LGBT os direitos que os heterossexuais já têm. Se o casamento gay existe em alguns lugares, não é um excesso, é um direito. Eu sou mulher e tive o direito de casar com meu marido, não tive? Então eu ter casado com um homem é um excesso ou um privilégio? Direitos iguais para uma sociedade mais justa.

Só quando a humanidade compreender que precisa aceitar as pessoas sem impor as suas próprias verdades é que passaremos a viver em paz. Cada um na sua felicidade sem se incomodar em como o outro é feliz. Porque o que importa, mesmo, é caráter, é ética, é honestidade. São os valores que determinam quem eu quero como amigo ou não. Quem eu acho que pode ser um bom líder ou não. Ser hétero, gay, negro, branco, mulher ou homem não faz a menor diferença. Faz pra você?

Alegrias,

Fernanda.

9 Respostas to “Dia do Orgulho Heterossexual – que vergonha!”

  1. Ana Says:

    Que absurdo! Não sabia dessa ainda. Seu texto me fez lembrar um video que assisti esses dias de um rapaz que se diz ateu. Ele expôs essa coisa das pessoas incluírem no mesmo pacote rótulos que não tem nada a ver o * com as calças. Sabe o terrorista norueguês? Então, as pessoas disseram que ele se dizia cristão mas só podia ser um “falso cristão”, porque um “cristão de verdade” tem bons sentimentos, etc. Se um ateu cometesse uma barbaridade dessas, provavelmente diriam “Também, só podia ser ateu! Quem não tem Deus no coração só pode fazer essas coisas!”. É a mesma coisa, não dá pra incluir no pacote dos absurdos este ou aquele rótulo. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Existem gays, heteros, cristãos, ateus, pobres, ricos, brancos, negros, altos, baixos, com todo o tipo de caráter, loucura e temperamento! Chega a ser burrice misturar essas coisas! Esse papo não te cansa, amiga? Ah eu me canso com isso. Coisa mais irritante! rsrs
    Beijo hetero! hahaha!

    Fernanda França Reply:

    Amiga, eu me canso, mas não consigo ficar quieta! Porque acho que é tanto preconceito que gera gerra e violência, sabe? Por que as pessoas não vivem a própria vida sem julgar os outros? No dia em que isso acontecer, aí sim não precisamos mais de dia nenhum para lembrar nada (nem de dia da mulher, quando a mulher não sofrer mais preconceito). Ai, ai… Beijos, Fê.

  2. Fefa Says:

    Concordo plenamente! Acho que a intenção dele é apenas causar mais preconceito. São pessoas muito individualistas, “se ele tem um dia, eu quero ter também” estamos vivendo muito divididos, a humanidade devia ser unida, sem julgar ninguém! (Apesar de que hoje, acredito que isso é utopia)
    .

    A sorte é que ainda existem pessoas preocupadas em viver, e não na forma como cada um vive.

    bjs

    Fernanda França Reply:

    Fefa, é utopia hoje, sim… Por isso que existem os movimentos para lembrar que não podemos ficar parados diante de preconceitos. Mas eu ainda tenho esperança de que a humanidade será justa. Por isso não consigo ficar calada diante dessas bizarrices, rs. Beijos e volte sempre ;-) Fê.

  3. Enderson Rafael Says:

    Oi, Fê! Então… acho absurdo os dois lados. Não acho que dias municipais disso ou daquilo resolvam. Na verdade, algumas políticas, como a de cotas, ao meu ver, até pioram a situação. Estamos ficando mais flexíveis a tudo, aos poucos, e acho que alguns “privilégios”(a palavra não é perfeita, bem observado) acabam sim por alimentar preconceitos que já estavam adormecidos. Enfim, sou a favor do “cada um com seu cada um, deixa o cada um dos outros”. Afinal, em tese, somos todos iguais perante a lei, e qualquer, eu disse QUALQUER distinção é sim um privilégio. Mas, num país como o nosso, é normal políticos usarem a polarização de preconceitos para ganharem votos de minorias e nichos. Seria ingenuidade minha esperar que o povo não caísse nessa…

    Fernanda França Reply:

    Ende, que honra ter você por aqui :-) Então… Eu sempre pensei que essas distinções (Como Dia da Consciência Negra e Dia da Mulher, por exemplo) eram um absurdo porque o ideal é não existir dia para ninguém, afinal, somos todos iguais!!!! Veja bem: ainda penso assim, mas depois de ler muito sobre a história e trajetória das minorias, eu vejo que hoje, HOJE isso é utopia. Como escrevi para a Ana aqui em cima: “Por que as pessoas não vivem a própria vida sem julgar os outros? No dia em que isso acontecer, aí sim não precisamos mais de dia nenhum para lembrar nada (nem de dia da mulher, quando a mulher não sofrer mais preconceito)”. A verdade é que existe preconceito, SIM. Se hoje falam na mídia, existe dia para combater o preconceito e o assunto é tão debatido, mas AINDA ASSIM os gays são ESPANCADOS nas ruas, o que podemos esperar dessa sociedade? Imagine se ninguém falasse nada, não houvesse nenhum movimento e todos ficassem quietos diante dessas barbaridades? O fato é que o mundo justo e ideal é que ninguém tenha nada diferente do seu “irmão”, que sejamos todos seres humanos tratados como iguais que somos e pronto. Mas é utopia, meu amigo… Infelizmente, hoje ainda é. Depois de tanta luta, as mulheres ainda ganham muito menos do que os homens nas mesmas funções! As mulheres apanham dentro de casa! As mulheres são tratadas como inferiores em muitos lugares! Então é uma conscientização que precisa continuar. Escrevi aqui em cima para a Fefa assim “Fefa, é utopia hoje, sim… Por isso que existem os movimentos para lembrar que não podemos ficar parados diante de preconceitos. Mas eu ainda tenho esperança de que a humanidade será justa. Por isso não consigo ficar calada diante dessas bizarrices, rs”. Tenho esperança de que um dia nada disso será preciso. Tenho mesmo! E veja bem: quando “luto” por direitos, não são necessariamente os meus, porque como mulher sou minoria, ok, mas eu sou hétero e branca, e nunca fui discriminada por isso, entende? Mas tem gente que ainda é, e muito! Não dá pra fingir que isso não existe. Beijos, meu amigo. Fê.

  4. Sérgio Says:

    Olá Fernanda! Depois de ter lido tudo isso (neste maravilhoso blog), veio-me à mente de que a gente é quem tem que mudar o sistema, ainda que com muitas batalhas, muitos falares e pesares, insistência, perseverança e atitude. Especificamente em relação à questão política aqui proposta para análise, é revoltante saber que se brinca com as leis como se fossem jogos de redes sociais. Assim como você, que é uma escritora de visão ampla, o povo brasileiro que tem acesso à leitura, ao universo digital e intelectual, prestar atenção e numa só voz, gritar em nome da maioria, dando a esta a chance “das possibilidades” dos menos favorecidos em todos os aspectos, porque a massa é conduzida por este ou aquele veículo manipulador.
    Essas questões que sempre estão expostas na mídia e parecem modismos, são inerentes à nossa sociedade como se fossem “normais” pelas características de cada grupo social. E não é verdade. Tudo é ligado a um único eixo.
    Se a gente se calar, tudo permanecerá sempre igual. Os velhos problemas causam problemas presentes… e tudo isso explodirá no futuro feito bomba atômica. O governo é o retrato do povo, infelizmente, ainda. Haja vista os documentários ou programas televisivos que nos mostram os nossos defeitos nas questões morais, éticas. Ex.: o cidadão cobra honestidade do governo, mas não devolve os 10,00 reais a mais no troco errado na padaria.
    É chato às vezes ficarmos batendo na tecla, ou feito vitrola com disco enroscado (sou da época da sonata…. rs); um dia mudará (melhorará), pois tudo tem limite, só que se não fizermos gradativamente, será apenas uma luz sem ter o fundo do túnel para brilhar.

    Beijos Fernanda, e bons momentos pra você com canções eternas…

  5. Sergio Viula Says:

    Parabéns pela lucidez e pela linda manifestação de humanidade aqui.

    Abração,
    Sergio Viula

  6. Lelei Says:

    AI ai ai e cadê o abaixo-assinado pra gente verbalizar a mosntruozidade que é esse projeto de lei? Ainda mais em uma época em que os homosexuais ainda são tão marginalizados no Brasil. É de dar vergonha de ser paulistana :(

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