04 de julho de 2007
Lado a lado, as vizinhas vivem mundos diferentes e ao mesmo tempo tão próximos. A primeira tem um filho de três anos, que gosta de brincar com os amigos, está aprendendo a reconhecer as letras, é um menino carinhoso e inteligente e vai à escola. A segunda tem um filho de oito anos, que sabe ler e escrever, também adora estar com os amigos, é uma criança esperta e afetuosa e vai à escola. A diferença está em um detalhe: a primeira mãe trabalha fora e a segunda não.
A que trabalha fora de casa possui dois pensamentos sobre a sua situação: às vezes se sente grata e orgulhosa por ter conseguido manter o emprego mesmo depois do nascimento do filho e em outros momentos se culpa por passar tantas horas fora de casa e longe do seu bebê. Aquela que fica em casa oscila entre a felicidade de ver o filho crescendo e acompanhar todos os seus passos e a tristeza de ver a carreira que escolheu parada, embora saiba que trabalha muito dentro de casa, todos os dias. O grande dilema da mulher moderna é justamente este: tive um filho, e agora, o que eu faço da minha vida profissional?
EM CASA
Não existe uma resposta pronta e nem o certo ou errado. O que existem são possibilidades e quem deve escolhê-las é a mulher. O foco deve ser a felicidade de ambos. Do filho, que passa a ser o mais importante do mundo dessa mãe, mas também da própria mulher, que não deve esquecer que possui seus próprios desejos. E como não há receita para a felicidade, não deve haver regras para alcançá-la.
A mãe que opta por ficar em casa não precisa se sentir menos importante por isso. Não é demérito nenhum escolher esse caminho, desde que ele traga bem-estar também à mãe. Isso porque é comum estar em casa e pensar “sou infeliz, não presto para nada, o que estou fazendo da minha vida?”. Neste caso, é hora de parar para refletir se um trabalho, mesmo que esporádico, não seria bom para a mulher e para o filho – que veria a mãe mais feliz. Se, pelo contrário, estar em casa e ser mãe integralmente é uma escolha, que mal há nisso?
Uma amiga querida me disse recentemente que está “trabalhando em um projeto” há anos. Ela falava do filho pequeno, um garoto lindo e adorável, que tem a sorte grande de ter uma mãe atenciosa e participativa e que decidiu abrir mão da sua carreira para entrar de cabeça na carreira de ser mãe.
FORA DE CASA
Trabalhar fora também não é sinônimo de mãe ausente. Estar presente vai muito além do contato físico. A mãe que está fora, porque precisa ou porque quer, não precisa se sentir menos mãe: ela é uma guerreira porque une o profissional com o afetivo. Não é fácil escolher trabalhar fora, porque o trabalho dentro de casa continua existindo e as cobranças também. Mas quem pode julgar uma família que escolheu ser feliz? É possível, sim, administrar a carreira e ter satisfação profissional com a criação de filhos e sem prejuízo dessa relação mãe-filho.
O exemplo de mulher que trabalha fora eu tive dentro da minha própria casa, com a minha mãe Margareth. Desde pequenos eu e meu irmão ficávamos ora com meu pai e ora com minha avó. Minha mãe é professora e trabalhava nos três períodos para ajudar o meu pai Osvaldo na casa. Os dois sempre foram muito trabalhadores e mesmo quando fora de casa, nunca os senti ausentes.
LÁ EM CASA
Quando éramos crianças, íamos à escola pela manhã no mesmo local em que a mãe dava aulas. À tarde ela se dividia entre as aulas e as nossas atividades e quando era necessário, eu e Flávio, o caçula, passávamos horas boas ao lado da vó. À noite ela ficava conosco, mas quando precisava ir para a escola, era o papai quem tomava conta dos dois. Mesmo com tantos horários, eu me lembro de aprender ciências com a mãe, matemática com o pai e dos pastéis aos sábados à noite. Hoje eu vejo nos pais que trabalhavam fora um grande exemplo.
Não há certo ou errado. A vida moderna impõe, principalmente às mulheres, escolhas como “vida profissional ou vida pessoal”. Não precisam ser feitas porque podem ser conciliadas. Mas podem acontecer se a mulher optar – ela pode ser só mãe, só profissional (sem filhos) e as duas coisas, se desejar. O que é certo é procurar o que faz bem e para isso não existe receita.