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Diário de uma mulher

terça-feira, outubro 14th, 2008

Uma praia linda, mar azul, areia e um calor de mais de 30 graus. Acordo. A praia foi embora, mas o calor continua. Deito novamente para tentar aproveitar os últimos 10 minutos antes de o despertador tocar. Dessa vez, sonho que minha gata é uma terrorista internacional. Levanto da cama atordoada – acho que estou ficando louca. Escovo os dentes e juro que posso ouvir um caminhão fazendo propaganda de uma escola (e não é de samba). A gata está escondida. Aquela calça cinza-claro não cai bem e resolvo colocar outra, mas todas as seguintes também não podem ser usadas. Decido que daquele momento em diante só quero usar calças pretas e só uma mulher poderia entender meu ponto de vista. Jeans também pode ser uma boa saída. Para ir trabalhar, lembro novamente da praia do sonho. Passo protetor no rosto, nos braços e ainda não posso esquecer do repelente nas pernas. Ao sair na rua, tenho a sensação que entrei no forno. Eu sou o bolo e logo serei assada. O calor aumenta, o suor escorre, é um nojo tão grande que não sei como alguém pode gostar disso. O sol brilha, é lindo, mas seria realmente bom se o sol esquentasse uma temperatura de pelo menos 10 graus a menos. Hora de almoço e já chega aos 35, a sandália escorrega do pé e fico imunda de terra. No caminho há terra, quando chove é barro. Durante todo o dia eu penso em tudo o que preciso fazer, mas não posso, porque estou no trabalho – é irônica essa vida. Chego em casa e tomo banho gelado, justo eu que nunca gostei de água fria. Assisto a um filme, mas não esqueço que preciso entregar um trabalho do curso que eu nem comecei e tenho pilhas de tarefas para serem feitas. Janta eu não faço nem que me paguem, eu pensei. Mesmo após a crise da calça e sem coragem de encarar a balança, escondida embaixo da pia do banheiro, eu preparo brigadeiro para comer de colher. Encho a pança com três quartos da lata. Como tudo de uma só vez, mas não é 100 por cento, é apenas três quartos, para diminuir a culpa. Passo mal e não consigo dormir. Tento pensar em algo bom, para adormecer, porque a madrugada chega e eu não posso esticar na cama no dia seguinte. Um amigo diz que a ditadura do horário comercial é impiedosa e eu me recordo que preciso descansar porque estou com olheiras. Quando sonho com a praia, o despertador toca. Não tão mal assim, pelo menos pulei a parte da gata terrorista.

Fernanda.

8 – Cabo Polônio

terça-feira, outubro 14th, 2008

(Voltamos com a programação normal da viagem. Calor de quase 37 graus na cabeça destrói neurônios, viu? Mas vamos voltar no tempo para um clima agradável lá no Uruguai. Beijinhos!)

No segundo dia em Punta Del este, decidimos passear um pouco de carro sentido Chuí. A estrada é boa e são cerca de 120 km até o nosso destino final: Cabo Polonio. Basta seguir a ruta 9 até Rocha e entrar pela estrada do litoral como se fosse pra La Paloma. Quando estávamos quase lá, achamos que nos perdemos. Paramos em uma rua próxima à rodovia e um senhor, que estava no gramado em frente à casa, mostrou o caminho com um sorriso no rosto e uma educação que não consigo esquecer. Logo à frente, já na estrada, encontramos uma mulher com uma criança pedindo carona. Nunca fizemos isso, mas naquele momento decidimos retribuir a gentileza uruguaia e valeu a decisão.

Conhecemos, com a carona, Jimena Serrana e sua filha Güiday, que segundo Jimena, significa luz do luar em guarani. Elas iam para o mesmo destino que nós e enquanto as ajudamos, elas nos ajudaram. Jimena foi como guia turística, mostrando e falando sobre tudo no caminho e quando chegamos a Cabo Polônio, pegamos o mesmo carro até o povoado. É preciso deixar o carro estacionado (e não há nenhum perigo quanto a isso) porque só os 4X4 fazem o trajeto. O percurso dura por volta de 30 minutos e fomos conversando com nossas novas amigas. Foi um ótimo papo, nos entendemos como se estivéssemos falando a mesma língua.

out08_cabopolonio_meninasJimena, Güiday e eu

Chegando lá, quem nos levou combinou um horário para nos buscar. É sempre assim que funciona e marcamos para dali a pouco mais de uma hora. No lugar, não há muito que se fazer, apenas contemplar. E a verdade é que somente contemplar aquele lugar é maravilhoso.

out08_cabopolonio_povoadoCabo Polonio

Jimena nos mostrou o povoado e entrou para seu curso – ela quer ser guia turística e com certeza vai ser ótima. Depois da despedida, resolvemos conhecer o farol e lá de cima pudemos avistar os primeiros leões marinhos. Pequenos pontos na pedra, todos juntinhos, que eu precisei aumentar com o “zoom” da câmera para ver melhor. Tão lindo, tão lindo, tão lindo que é só isso mesmo o que eu posso dizer. Tão lindo.

out08_cabopolonio_leoesLeões marinhos, juntinhos, tomando sol

As casas do vilarejo são peculiares também. Vimos uma casa cujo vidro da janela era um vidro da frente de um carro e uma outra que tinha uma pia do lado de fora e um telhado coberto por grama, como um jardim.
Descemos do farol e fomos mais perto das pedras onde estavam os animais. Há um limite para nós, humanos, de forma a preservar os bichanos na tranqüilidade deles. Chegamos próximo à cerca e dali pudemos ver os leões tomando sol. Para quem gosta de animais e natureza, é incrível chegar a um lugar como esse, em que os leões marinhos vivem sem medo de nós, em que podemos observar como é a natureza de verdade. Para mim, foi a mais bela vista que eu tive na viagem inteira. Cabo Polônio não é um lugar comum – é exótico e por isso mesmo é incrível. Para aqueles que estiverem em Punta Del Este com um dia livre, eu sugiro uma visitinha a Cabo Polonio.

out08_cabopolonio_ferEu, feliz, feliz, feliz… e os leões no fundo

Quando percebemos, uma hora havia se passado e tínhamos que ir embora. Ainda deu tempo de parar em uma das barraquinhas “hippies” do local e conversar com um uruguaio que faz tocas e cachecóis para vender. Como há ovelhas e épocas de calor, elas são tosadas e a lã é usada para a fabricação dessas peças. Tudo natural. “Não machuca as ovelhas?”, eu quis saber. “É como cortar o cabelo”, brincou a esposa do homem que nos atendia. E então trouxe para casa um cachecol marrom lindo e rústico.

Voltamos com mais algumas pessoas no 4X4 e de lá seguimos para La Pedrera. A idéia era só conhecer e seguir para La Paloma, uma cidade bem recomendada. Andamos um trecho até que… o que houve com o carro? Não anda. Como assim, não anda? Atolou? Ai ai ai ai ai… Atolou!

Pois é, o carro atolou de bico na areia. Ela não estava lá, andávamos pela terra até que surgiu a areia e como num filme de comédia, lá estávamos nós dois, sozinhos em uma minúscula cidade praiana vazia (porque estava frio) e sem saber o que fazer. Procuramos galhos, madeira, tudo para ajudar, buscamos socorro nas casas e não havia ninguém e então algumas crianças apareceram e tentamos manter uma conversa para que elas entendessem a situação.

Os pais da criançada estavam passeando, elas também não eram de lá e nisso passamos um tempão tentando ligar para a locadora de veículos, sem sucesso ou procurar uma pessoa. Chegou um carro com mais três ajudantes, mas eram argentinos e também não conheciam ninguém na redondeza. Saíram para buscar ajuda, resolvemos trancar o carro e sair a pé, até encontrar alguém. As crianças se lembraram de um homem que conheciam, fomos até a sua casa, mas ele não sabia como ajudar e então foi conosco até a casa de outro conhecido dele, que tinha um Land Rover 1949. E então quando retornamos, encontramos novamente os argentinos e todos juntos vimos o jipe desatolar o nosso carro alugado, depois de umas três horas do início da aventura.

O episódio só nos mostrou, mais uma vez, como o povo local é bacana. Nenhuma das pessoas que nos encontrou foi embora. Todos tentaram ajudar de alguma forma, inclusive as crianças. Quando o carro desatolou, todos bateram palmas, foi muito engraçado e parecia, de fato, um filme. Agradecemos um por um, tiramos fotos e seguimos nossa viagem.

Quando chegamos a La Paloma, bem mais tarde do que o previsto e ainda sem nenhuma refeição na barriga, estava tudo fechado. A cidadezinha é mesmo linda, pequena e aconchegante, com vários restaurantes em volta da rua principal, mas todos fechados àquela hora. Paramos só para conhecer e seguimos para o primeiro posto de gasolina que encontramos, onde tomamos um chocolate quente e um sanduíche de queijo. Esse foi o nosso almoço, às 18h00. Voltamos para Punta e jantamos bem tarde, em La Barra, um sanduíche delicioso (embora caro, como tudo na região) no Flo Café e Bar.

No dia seguinte, 18 de agosto, seguimos de volta a Montevideo e devolvemos o carro. Pegamos um táxi até o porto para pegar o buque. Nossa idéia era ir até Colonia de ônibus e depois pegar o buque, mas como não compramos a passagem on-line e essa foi a única coisa que nos esquecemos de fazer pela internet, só havia passagem direto de Montevideo para o nosso destino. Uma dica de viajante é: compre as passagens online.

Naquele dia, por volta das 12h00, pegamos o barco rumo à Argentina, onde passamos um dia a menos do que o previsto, porque resolvemos voltar para o Uruguai. Acompanhe a nossa aventura…

(Continua)