1 de junho de 2007
Eu não poderia deixar de falar sobre o cigarro logo após o Dia Mundial Sem Tabaco, comemorado em 31 de maio. A data foi criada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e adotada por diversos países que participam da proposta de controle de tabagismo no mundo. O objetivo é a conscientização dos males que o tabaco e seus derivados causam.
Recentemente, o colega de redação Alexandre Martini perguntou, por brincadeira, o que eu tinha contra o cigarro. Respondi que tudo, absolutamente tudo, com a fúria que o assunto me causa. Coitado dele, foi uma vítima de um dos assuntos que mais me perseguem. Falo isso porque sou bastante tolerante com muitas questões, flexível e compreensiva, mas se existe um assunto sobre o qual eu sou irredutível é esse: o cigarro. E que me desculpem os fumantes pelos números verdadeiros que eu costumo apresentar.
DROGA
De acordo com dados da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia), fumar aumenta em 300% o risco de uma pessoa ter um ataque cardíaco e o fumante também tem 200% mais chances de ter um derrame do que um não-fumante. Só no Brasil, 200 mil pessoas morrem por ano por causa do cigarro. E ele continua existindo.
Uma colega comentou comigo certa vez que era a favor de um estilo saudável de vida, com alimentação controlada, exercícios físicos e nada de droga. “Mas só um cigarrinho de vez em quando”. E eu disse “Mas cigarro é droga!”. A que mais sofreu com meu radicalismo foi minha prima Carol, que veio passar um Carnaval comigo no Guaçu. Passou quatro dias fumando na escada do prédio, porque eu disse que fumante não entrava na minha casa. No fundo, eu sei que ela entendeu.
O cigarro contém cerca de 4.720 substâncias químicas e pelo menos 60 delas são reconhecidamente cancerígenas. Não há nada de bom em um cigarro. Mas eu compreendo, é um vício e como todo vício, deve ser difícil largar. O problema é que na maioria das vezes o fumante gosta de fumar e não deseja parar.
PASSIVOS
A SBC estima que existem dois bilhões de fumantes passivos no mundo e que 700 milhões são crianças. Isso significa que todas essas pessoas respiram a fumaça do cigarro dos outros e absorvem todas as substâncias tóxicas que o próprio fumante, mesmo sem ter fumado. Não tenho “birra” à toa. Conheço pessoas que perderam familiares queridos por causa do cigarro e talvez eu mesma não estivesse viva depois de um sério problema de pulmão que eu tive se não fosse contra o tabagismo. Mesmo depois de voltar de uma internação em UTI (Unidade de Terapia Intensiva), lembro-me como hoje que em uma sala fechada um conhecido acendeu o cigarro e enquanto conversava comigo, jogava a fumaça em minha cara, mesmo sabendo do meu histórico. Saí da sala.
Antes desse episódio, eu dizia que não me importava com o cigarro. De fato, como na maior parte dos assuntos, eu respeito a opinião dos outros. Até posso respeitar que existem pessoas que querem fumar. Não consigo aceitar que essas pessoas me façam fumar com elas, porque eu não escolhi isso para mim. E depois daquele dia, naquela sala, com aquele fumante, eu passei a pensar diferente.
CRENÇAS
Eu passei a acreditar que se o fumante não se respeita quando estraga seus próprios pulmões, fica difícil para ele imaginar que está fazendo mal para os outros. No primeiro ano da faculdade, eu me lembro bem, tive uma colega de classe linda e muito inteligente. Fumava como uma doida, um cigarro atrás do outro. Ficou grávida e continuou a fumar. Os colegas de classe não se conformavam, mas ela dizia que se preocupava, sim, com a saúde do bebê, mas não conseguia parar de fumar. Talvez os fumantes não tenham consciência do mal que fazem a eles próprios e aos outros.
Dados apontam que 80% dos fumantes começaram a fumar antes dos 18 anos. Muitos deles começaram como fumantes passivos, em casa, vendo os pais acenderem o cigarro. Criança aprende pelo exemplo. Aquela minha prima, a Carol, aprendeu a fumar vendo os pais. Um exemplo desses é o pior que pode existir: de vício.
Fora que a saúde é afetada pelas tragadas, sim. O homem fumante vive em média 13 anos a menos do que o não-fumante e a mulher 15 anos a menos. Com todo o respeito – mas sem a compreensão: caros fumantes, eu desejo viver mais.