5 de junho de 2008
Um dos aspectos que mais me atraem no jornalismo é a possibilidade de escrever sobre diferentes assuntos. A questão é: será que os entrevistados entendem o que é o nosso trabalho? É importante para a realização de uma boa matéria que o repórter consiga boas entrevistas. Há pessoas que precisam ser entrevistadas devido à posição que ocupam. Não somos chatos quando pedimos uma entrevista para a mesma pessoa vários dias. Se o cargo ocupado é dentro de uma associação, secretaria municipal ou outro órgão, é necessário que um representante esteja aberto a falar. Faz parte de alguns cargos o fato de que a informação é pública e os leitores merecem tê-la.
Há quem entenda muito bem o que é uma entrevista. Melhor ainda. Há quem torna o trabalho mais agradável para ambos os lados. Para o repórter, que precisa da informação, e para o entrevistado, que tem que divulgar essa informação. Jornalista não é um bicho de mil cabeças pronto a morder, a difamar, a escrever mentiras. Nada disso. Jornalista apenas descreve os fatos. Aqui, nesta coluna, posso expor o que penso, mas quando entrevisto uma pessoa, mesmo que discorde de seu ponto de vista, isso nunca aparecerá em um texto. A matéria é imparcial.
É claro que existem jornalistas de todos os tipos, como existem bons e maus profissionais de todas as categorias. Eu me refiro a jornalistas com ética que, para mim, é ainda o primeiro e mais importante requisito da profissão. É preciso agir com ética para escrever, sem se intrometer, sem julgar, sem agradar ou criticar. E, posto isso, volto às entrevistas.
PESQUISA
Caro leitor, com raras exceções de alguns poucos que possuem mais de uma atividade, jornalista não é advogado, músico, poeta, professor ou médico. O repórter sabe ouvir e sabe escrever. Deve passar para o leitor o que o especialista, que no caso não é ele, disse em entrevista. Como jornalista, não posso conhecer todos os assuntos com a profundidade de um profissional da área. Quando entrevisto um artista plástico sobre determinada técnica de pintura, ouço para explicar para o leitor. Quando um advogado explica sobre uma lei, aprendo para ensinar em forma de matéria.
Mas aqui cabe uma ressalva. Repórteres não iniciam uma entrevista sem antes pesquisar. Faz parte do trabalho uma pesquisa intensa sobre o assunto, para que possamos saber o que perguntar. Só que vale lembrar que o leitor não conhece o assunto e que a pergunta que o repórter faz não é, necessariamente, a que ele quer saber (porque muitas vezes já sabe). É a que ele precisa ouvir do entrevistado para passar para quem irá ler. Posso fazer uma pergunta aparentemente boba, mas que é necessária para a fluidez da matéria, para uma explicação detalhada e básica. Porque escrever para revista médica ou de arquitetura, por exemplo, é diferente de escrever para um jornal. Aquela pergunta simples, portanto, não significa que o repórter é um ignorante.
DESRESPEITO
Há bem pouco tempo foi assim que eu me senti. Além de ter a impressão de que meu entrevistado debochava de minhas perguntas e acreditava que eram básicas e supérfluas, sugeriu que eu devesse procurar conhecer mais um assunto com menção de pesquisas que eu já lera. As perguntas simples foram encaradas com o desdém de quem não quer falar ou não sabe o que vai falar. Faltou ao entrevistado uma boa dose de educação e respeito pela minha profissão, da mesma forma que eu tenho pela dele e por todas.
Sinto, ainda, muita relutância das pessoas em dar entrevistas aqui na cidade. Pode ser que falte respeito pela profissão de jornalista (que muitos julgam ser a escolha dos sedentos por sangue e eu adianto que gosto de matérias que passem longe desse tema) ou talvez muitos não compreendam ainda que é importante que algumas informações sejam passadas adiante, que matérias podem ser informativas e explicativas, que jornal também educa.
Sorte dos repórteres que nem tudo é desrespeito. Há, todos os dias, o brinde com entrevistados educados, com assessores de imprensa que auxiliam nosso trabalho, com advogados, músicos, poetas, professores ou médicos que merecem aplausos. Porque o objetivo de tudo é informar. Simples assim.