6 – Punta Ballena

(Oi, amigos! Tá muito chato acompanhar a viagem? Sempre que der eu trago novidades em um ou outro post sem ser sobre o Uruguai, certo? Mas com a correria das eleições – repórter trabalha nesse dia, né, gente – não vai dar para escrever muito agora. Fiquem com mais uma parte da viagem, superespecial para mim e marido. E os recados continuam sendo respondidos. Um abraço apertado em cada um de vocês).

Quase em Punta Del Este, apenas a cerca de 16 km antes do destino, paramos em Punta Ballena. Apesar de ser um lindo local, ele é conhecido exclusivamente pela presença do Museo-Taller de Casapueblo, do artista uruguaio Carlos Paez Vilaró. O lugar é tudo: hotel, casa do artista, ateliê, museu e lojinha dos seus produtos. Uma construção enorme, branca, que parece mais um palácio à beira-mar.

Entramos e fomos para a sala de vídeo, que mostra a história de Vilaró contada por ele mesmo. De lá, seguimos para o museu, onde pudemos ver ao vivo as belas obras desse importante artista uruguaio. E muitos gatos, do jeitinho que gostamos. Cada quadro lindo que não dá nem para explicar… e conhecer a história de perto é muito mais interessante.

Vilaró nasceu em Montevideo em 1923 e em novembro completa 86 anos. Morou, durante a juventude, em Buenos Aires. Em 1958 começou a construção da Casapueblo. Ele mesmo quis construir a casa, com as próprias mãos, e sua obra demorou mais de 30 anos para ficar pronta. O resultado está em uma construção estonteante, com uma bela vista para o mar, lugar que faz o pôr-do-sol ficar ainda mais bonito.

Andamos pelo prédio, vimos as obras, olhamos os quadros à venda e marido quis nos presentear, pelos nossos aniversários, com uma pintura. Eu pedi, na cara dura, para a atendente: “queria um autógrafo do artista” e ela disse que era só buscar a obra no dia seguinte. Então insisti: “mas eu queria uma foto com ele também”. A moça não resistiu ao apelo da brasileira, entrou em contato com Vilaró e eu a ouvi ao telefone “Sim, senhor Carlos, como não? Vamos agora mesmo” ou qualquer coisa parecida com isso em espanhol. O “como no?” eu tenho certeza que ela disse. Todos eles dizem.

Então ela nos disse que iríamos ao ateliê dele. As pessoas vão ali, conhecem o museu e eu iria conhecer o artista? Era demais para meu pobre coraçãozinho. Ele bateu forte, forte, e a cada batida mais forte eu subia um degrau. Subia, subia, e passamos pela sala. Ali estava a sala do artista! Uma sala linda, não vou me esquecer, com um sofá branco feito com o mesmo cimento com que ele fez a própria casa, e as almofadas coloridas em cima, um tapete colorido, tudo tão simples que nem eu, nem você e nenhum de nós poderia imaginar. Branco, colorido e simples. Tão lindo. E os livros? Por todos os cantos, em todas as paredes. Tão lindo que oh, deu vontade de chorar.

Então subimos mais e mais. O coração não batia, ele gritava. Fica bobo, não, caro leitor. Se teu sonho é conhecer os participantes do BBB, o meu é conhecer os artistas que eu mais gosto. Os pintores e escritores em especial. E lá estava eu na casa de um que é os dois juntos num só e muito mais. Chegamos a um espaço enorme e lindo, com uma mesa grande com telas em cima, cavaletes, tintas por todos os lados, quadros pendurados e mais livros. Passamos por um espaço para chegar à outra sala parecida. De um quartinho menor ele saiu, com casaco de frio, sorriso no rosto e uma alegria contagiante.

Deu boa tarde, perguntou nosso nome, cumprimentou. Deu beijinho. Ele contou que estava revisando mais um de seus livros, sobre o Tahiti. Ele morou lá um tempo. E eu disse que estava emocionada de estar ali, marido estava tão bobo quanto eu, que somos os dois amantes da arte e nos damos bem até nisso, aí Vilaró viu o nosso quadro de gatinho nas mãos e nos disse que aquela que íamos levar para casa era a Luna, uma de suas gatas. “Pinto muito gatos porque eu tenho gatos”. A Luna e o Sol moram em Punta Ballena, mas ele contou, rindo, que tem sete gatos na sua casa em Buenos Aires. “Um com nome de cada dia da semana”. Rimos todos.

O artista pegou a caneta e já sabendo nosso nome, repetiu e confirmamos. Escreveu “A Fernanda y Mauro, con mi cariño”. Assinou o nome e desenhou um peixinho embaixo. Enquanto assinava, contou que naquele dia tinha ido ao mercado para comprar comida para os gatos, assim, nessa simplicidade e doçura de quem conversa com os amigos. E rimos do jeito fofo dele falar sobre os gatos e dissemos que temos dois também, Polly e Teddy, resgatados das ruas. Ele também adota. Todos adotados. Contou sobre a Briggite Bardot, que certa vez passeava pela rua, viu um monte de gatinhos que iam morrer e pegou todos. Distribuiu para pessoas que adotaram. Coisa linda de viver, né? Gente famosa de bem.

Tiramos fotos. Tirei dele assinando, fiz um vídeo curto só para não esquecer mais a voz do artista, a moça da loja que subiu conosco ao ateliê bateu duas fotos nossas e pedi ao marido uma foto minha com ele. Estava emocionada e com os olhos cheios de água. Encostei a cabeça no ombro dele, que me abraçou como um avô faz. Perguntou de onde éramos, falamos Brasil, ele contou dos seus amigos brasileiros (de fato, Vilaró foi amigo de grandes nomes e ainda é amigo de outros tantos), do tempo que passou no nosso país. Agradecemos muito por ter nos atendido e ele disse que foi um prazer. Demos beijinhos e no fim, eu lembro bem, fiz um tchauzinho com a mão e ele respondeu “Adiós, Fernanda”. Não esqueceu meu nome, com a educação e gentileza de um grande artista, humano, educado e simpático como seu povo.

Desci as escadas tremendo. Tão feliz como uma criança que ganha brinquedo. Olhei para o marido, que estava igual. Ainda descemos no terraço, onde pudemos ver o sol se pondo. Uma alegria no cenário perfeito. Um momento que eu nunca mais vou esquecer na minha vida.

(Continua…)

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